quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL

Dando sequencia a nossa proposta apresentada na postagem a anterior, ampliamos o debate tratando sobre uma pequena abordagem sobre a globalização por uma ótica do mundo financeiro, ou seja, da mundialização do capital.


ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A GLOBALIZAÇÃO

Não se pode falar em “ética global” sem ao menos pontuar a questão da globalização. Alguns autores procuram compreender as políticas neoliberais que vem sendo implementadas a partir dos anos de 1980 e 1990, como parte integrante de um novo modelo de regulamentação, correspondente ao regime de acumulação predominantemente financeiro, que emergiu na década de 1970, com o fim do fordismo[1]. A mundialização do capital (uma outra expressão para globalização) precisa ser revista, pois é a partir daí que se inicia o desmonte do sistema de seguridade social, que, segundo Guhur, é fruto de uma ideologia neoliberal.[2]

Agora, o que se entende por mundialização do capital? Quero somar às informações da autora citada acima, algumas informações obtidas da leitura de um artigo do Dr. Giovanni Alves, Sociólogo e doutor em ciências sociais (UNICAMP),[3] que nos auxiliam na compreensão do termo.

A nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial, caracterizada como sendo a da "mundialização do capital", na verdade, nos coloca diante de um novo regime de acumulação capitalista, um novo patamar do processo de internacionalização do capital, com características próprias e particulares se comparada com etapas anteriores do desenvolvimento do capitalismo. Esse novo período capitalista se desenvolve a partir de uma profunda crise de superprodução e é caracterizado por outros autores como sendo marcado pela produção destrutiva ou ainda pela acumulação flexível.

Uma série de indicadores macroeconômico da década de 90 apontam que a economia mundial ainda mantém-se no interior como sendo uma longa depressão permeada por momentos de desaceleração, recessão e crescimento não-sustentado das economias capitalistas. Sendo assim, deparamo-nos com um novo regime mundial de acumulação do capital, alterou, de modo específico, o funcionamento do capitalismo. Ele irá denominar a nova etapa do capitalismo mundial, na falta de uma denominação melhor, de "regime de acumulação predominantemente financeira", que caracteriza a "mundialização do capital".

A característica predominante do novo regime mundial de acumulação capitalista é ser rentista e parasitário, isto é, está de modo crescente, subordinado às necessidades próprias das novas formas de centralização do capital-dinheiro, em particular os fundos mútuos de investimento e os fundos de pensão (as características rentistas dizem respeito também ao capital produtivo). O poder, se não a própria existência, deste capital-dinheiro é sustentado pelas instituições financeiras internacionais, tais como FMI e Banco Mundial, e pelos Estados mais poderosos do planeta a qualquer que seja o custo.

A "mundialização do capital" é, antes de tudo, decorrente de determinações políticas. É essencial levarmos em consideração, ao mesmo tempo, o político e o econômico, para que possamos compreender a verdadeira natureza da “mundialização do capital”. Na verdade, uma acumulação predominantemente rentista, reflete mudanças qualitativas nas relações de força política entre o capital e o trabalho, assim como entre o capital e o Estado, em sua forma de Estado de Bem-Estar.

Entende-se que o marco histórico da "mundialização do capital" é a recessão de 1974 - 1975, o início desta "longa crise rastejante". A partir daí, o capital procurou, de todas as formas, romper as amarras das relações sociais, leis e regulamentações dentro das quais se achava possível prendê-lo com a ilusão de poder "civilizá-lo". O capital teve êxito, apesar de modo bastante desigual, conforme se adaptava em cada país.

A “mundialização do capital”, na verdade, retirou, a meu ver, a soberania de países, nações. Nenhum governo, mesmo que democraticamente eleito, pode tomar decisões que julga ser melhor para o seu povo (que o elegeu), sem levar em consideração a força desse capital mundial. Como exemplo pode-se ver hoje a situação da Europa. A Inglaterra, mesmo sem fazer parte da zona do euro, sente-se pressionada a tomar atitudes que afetarão diretamente os seus cidadãos, por imposição de outras nações.[4] É bem verdade que o país onde se iniciou a “revolução industrial” hoje possui pouquíssimas indústrias. Contudo possui enormes conglomerados financeiros com abrangência mundial. No mundo atual uma “gripe” na economia chinesa causará uma pneumonia, por exemplo, no Brasil. Essa é a ideia da “aldeia global”.


[1] Modelo de administração implementado por Henry Ford em sua linha de produção.
[2] GUHUR, Dominique Michele; SILVA, Irizelda Martins de Souza. As políticas sociais neoliberais no quadro da mundialização do capital: um movimento dos anéis sacrificados no passado para salvar dedos. Revista HISTEBR on Line, Campinas, (35): 76-95 Set. 2009.
[4] Situação ocorrida no início de 2012 onde foi proposto normas gerais de endividamento dos países, limites econômicos, onde, por exemplo, uma autoridade estrangeira teria poder sobre um país que não o elegeu.

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