A patir dessa postagem, vou publicar uma série de textos com alguns comentários sobre a sociedade. O o bjetivo é fazer uma discussão teológica para fora. Ou seja, Deus não precisa de teologia, Ele sabe tudo sobre si mesmo. A teologia que fazemos precisa ter eco na sociedade na qual estamos inseridos. Peço a contribuição dos leitores desse bolg que façam comentários, discordem, aprovem, diga que entenderam, ou que não entenderam... pois pretendo lançar um livro com esses assuntos. Serão mais ou menos umas 5 postagens. Conto com a sua capacidade crítica.
Vivemos com o sentimento que estamos em uma “aldeia global”.
A comunicação alcançou níveis inimagináveis. Situações que acontecem do outro
lado do mundo são vistas ao vivo, quando não, poucos minutos, ou horas depois
já estão disponíveis na internet e nos noticiários de televisão.
Como exemplo pode-se citar inclusive (e principalmente)
questões ecológicas. Emissões de dióxido se carbono emitidos pelos EUA, pela
China tem impacto em todo o mundo ao afetar a camada de ozônio.
Na questão das relações internacionais, a proteção do ser
humano passou, da soberania absoluta do estado nacional, ao interesse de toda a
comunidade internacional. Exemplo disso é a Declaração Universal dos Direitos
do Homem (DUDH), assim como outros pactos que se sucederam.[1]
Sendo assim, neste sentido, a ética global reflete problemas
e conflitos morais que se encontram na zona limítrofe entre localidade e
globalidade. Ou seja, roubar é crime em todas as localidades do mundo, mas o
que fazer com quem rouba, difere. Na Arábia Saudita, corta-se a mão de quem
rouba. No Irã, uma mulher pega em ato sexual fora do casamento é punida com
chicotadas, podendo ser condenada a morte. Como se aplicar aqui a questão do
Direito do Humano? Neste sentido, a ética não trata mais somente, no sentido
kantiano[2], de questões abordadas no universalismo
ético relativas aos conflitos de interesses e vontades, mas de conflitos
concretos da religião, da identidade, das culturas, dos valores, das normas e
expectativas em torno da boa vida que caracterizam uma ética global. São
perguntas que abrangem toda a complexidade da boa vida comunitária.[3]
Surge, então o debate entre partidários do relativismo e do
universalismo cultural. Onde os partidários do relativismo cultural acreditam
ser ele a fonte primordial de validade do direito ou de regras morais. Ou seja,
cada cultura produz suas regras morais básicas e não se pode questionar ou
condenar uma cultura contrária, somente porque valoriza regras morais
diferentes. Ao passo que os partidários do universalismo defendem a negação do
subjetivismo e do relativismo em ética porque, levadas ao extremo, tais
concepções impediriam a discussão ética. “Ora, se cada um tem uma opinião ou se
cada sociedade tem uma opinião, todos têm razão, nada se discute e dá-se início
a uma espécie de círculo vicioso. Na verdade, o que se propõe é justamente o
contrário: propor uma espécie de raciocínios que justifiquem decisões e
responsabilidades a respeito de questões práticas polêmicas”.[4]
Nesse sentido, sob o ponto de vista de uma ética global,
coloca-se, por exemplo, a pergunta se de fato existe uma moral pura, holística
e homogênea "do Ocidente" (que é chamado pelos orientais de
individualista), a qual, por sua vez, poderia ser contraposta a uma moral "do
Oriente" e que deveria ser abandonada caso se chegasse a uma ética global,
que integre e inclua.
Dessa maneira, o que poderia diferenciar a discussão para
uma ética global em torno de uma ética universalista, por exemplo, seria a sua
focalização concreta e a sua sensibilidade para as diferenças. Além disso, o
conceito de globalização aponta para a limitação do agir humano, que evidencia
a necessidade do exame de todos os projetos herdados e suscita perguntas acerca
do sentido de todas aquelas atividades que se baseiam na idéia de que as
possibilidades de desenvolvimento do Estado e de seus cidadãos são ilimitadas.
Sendo assim,por exemploFroehlich sugere um novo referencial
de ética global a partir da proteção internacional da pessoa humana. É possível
que em numa ética global não possa haver demarcação de limites, não pode haver
delimitações includentes nem excludentes e, assim, não pode haver marginais. A
ética global não conhece inimigos, nem estranhos. Que o contexto da ação moral
entrementes abranja toda a humanidade significa, ao mesmo tempo, que alguém
pode pensar-se como indivíduo moral apenas quando sua boa vida se realiza sobre
a base do reconhecimento mútuo de todos seres humanos. Pois, uma ética global
não pode operar com exclusões de nenhum tipo, sejam elas exclusões de inimigos,
sejam de estranhos. Mesmo que tais processos de exclusão tenham sido de
fundamental importância para Estados e culturas nacionais, eles são
inadmissíveis para uma ética global. Neste caminhar o ser humano é identificado
como tutelado pela comunidade internacional, e não apenas como interesse de
tutela do Estado.
[1] FROEHLICH, Charles Andrade; VIEIRA,
Gustavo Oliveira. Ética global e proteção internacional da pessoa humana:
dilemas da transnacionalização. Revista de Estudos Constitucionais,
Hermenêutica e Teoria de Direito, São Leopoldo, 1(1): 16-27 jan.-jun., 2009.
[2]Kant pensava que a
moralidade pode resumir-se num princípio fundamental, a partir do qual se
derivam todos os nossos deveres e obrigações. Chamou a este princípio
“imperativo categórico”. Exprimiu-o desta forma:“Age apenas segundo aquela
máxima que possas ao mesmo tempo desejar que se torne lei universal.”Mais
adiante, na mesma obra, afirmou que se pode considerar que o princípio moral
essencial afirma o seguinte:“Age de tal forma que trates a humanidade, na tua
pessoa ou na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um
meio.”Kant pensava que se tomarmos a sério a ideia da dignidade humana seremos
capazes de entender a prática da punição de crimes de uma forma nova e
reveladora.
[3] Cf. ZIRFRAS,Jörg. Ética global como ética local. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302001000300002
[4]FROEHLICH, 2009, p. 21.
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