Além de
toda a mudança que ocorre mundo afora, obviamente nosso Brasil não está alheio
a essas mudanças. É perceptível que há uma mudança grande em curso no Brasil.
Percebemos que há também uma maior concorrência. E não apenas nos grandes
centros, mas há recursos, oportunidades, coisas acontecendo por todo o país.
Isso também é uma novidade. O progresso e a sensação de maior prosperidade
estão se espalhando. Obviamente não se pode exagerar, achando que somos uma
Suíça. Existe muita pobreza e muita desigualdade social. Mas, como bem
identificou o sociólogo Fernando Henrique Cardoso: “a centralidade do tema da
pobreza está mudando [...] qual o tema que nos apaixonava no passado? O
subdesenvolvimento. Não se falava em desenvolvimento. Somos subdesenvolvidos.
[...] subdesenvolvimento, pobreza, miséria. Teatro do Oprimido, estética da
fome, etc.”[1] Esse problema, obviamente
não foi resolvido, mas é possível dizer hoje que houve avanços no enfrentamento
da pobreza. As projeções indicam que o Estado e a sociedade estão mais
conscientes do seu papel, embora, repito, ainda há muita coisa a se fazer. Mas
para onde se vai?
Faço
essa interrogação em relação à sociedade. Ao contrário de antes, a questão da
sociedade é mais desafiadora do que a questão do mercado. Isso é uma mudança
muito significativa que precisa ser levada em consideração. Nos anos de 1950,
1960 dizia-se que éramos subdesenvolvidos, em alguns círculos dizia-se que para
haver desenvolvimento precisava-se de uma nova ordem econômica e social, ou
seja, socialismo. Era como se não pudesse haver desenvolvimento sem socialismo.
Nas décadas seguintes começou-se a perceber que em vários lugares do mundo
estava havendo algum progresso sem socialismo (inclusive no Brasil), logo
depois, em 1989 aconteceu a queda do Muro de Berlim e a desintegração da União
Soviética.
O fato é
que os tempos mudaram. Embora a discussão sobre o crescimento da economia tenha
o seu lugar, as grandes interrogações hoje dizem respeito a sociedade. Como as
pessoas se relacionarão, com responderão ao imenso fluxo de novidades que se
apresentam diariamente diante delas? O que é que está acontecendo?
Os
dados econômicos demonstram o surgimento no Brasil de uma nova classe média,
com novas ideias, novas perspectivas, diferente da tradicional classe média das
décadas passadas. O novo não está apenas no mercado financeiro, mas também no
crescente mercado de comunicação, circuitos de moda, entretenimento, turismo,
na inovação, na sustentabilidade. Coisas que não existiam antes.
Milionários
e bilionários aparecem e não estão diretamente ligados a produção advinda da
terra (agricultura) ou da indústria de transformação. Mas são criadores de sites,
programadores de jogos, donos de empresas de comunicação, entre outras.
Essas
dinâmicas apresentam novos padrões de geração de riqueza, assim como novos
padrões de liderança. Novos padrões também como a filantropia que hoje é um
fenômeno global. O fato é que nós, hoje, não estamos repetindo um padrão dos
meus pais, dos meus avós. Estamos gerando algo novo, mesmo que não estejamos
entendendo muito bem, mas algo novo está acontecendo.
Mas,
afinal, o que é o novo? “É o fato que a despeito da existência de estruturas,
de uma ordem estabelecida, as pessoas estão cada vez mais se conectando por sua
própria iniciativa, independente das estruturas preestabelecidas. As pessoas vão
para a internet, entram no facebook e têm amigos. Não é preciso
perguntar se esses amigos são pobres ou ricos, qual sua origem familiar, qual
seu nível de escolaridade. Nada disso tem a importância que tinha antes.
Vivemos em uma sociedade que o importante é compartilhar.”[2]
No
passado o compartilhamento se dava por meio de estruturas organizadas,
pertencimentos. Cada um tinha sido de tal colégio, tinha o seu partido, o seu
sindicato. Hoje as associações continuam a existir, mas é possível para
qualquer um saltar tudo isso. No passado podia se definir a ideia de comunidade
como “viver junto a mesma experiência, juntos no mesmo momento. Encontrar o
outro face a face. Não era preciso o contrato. O contrato era a sociedade. Hoje
as coisas mudaram. As experiências são
compartilhadas a distancia.
Esse
processo é muito forte, afetando empresas, governos, igrejas e outras
associações. A sociedade está se conectando de outra forma, e isso afeta a
forma de organização social. A sociedade de hoje, a chamada geração “Y”, já
discute abertamente e espontaneamente suas questões pela internet. Se o
indivíduo vai a um médico e não gosta do atendimento, coloca uma crítica sobre
o atendimento na sua página na internet, por exemplo. Ou se compra uma
mercadoria e não gosta, não diz apenas para o vizinho ou ao círculo de amigos
mais próximos, faz-se uma crítica em uma rede social e isso pode ser mortal
para a empresa.
Sendo
nosso objetivo comunicar a Fé em Jesus nessa sociedade, deve-se entender essa
capacidade que as pessoas têm de se conectar e se desconectar. Elas se ligam e
se desligam, pois a participação é variável e a mobilização se dá a cada
momento, em relação a um determinado tema.
“O interesse e a vontade de agir são suscitados pela questão em debate.
Cada questão sensibiliza determinadas pessoas, e não outras.”
Obviamente
isso levanta imensos desafios. Há que conviver com a pluralidade de opiniões,
com a multidimensionalidade dos temas, com ritmos e tempos de debate que
oscilam com comunidades de interesse e de afinidade que se fazem e se desfazem.
Então a pergunta é como lidar com essa fluidez, e ao mesmo tempo gerar pontos
de referência, valores, caminhos que representam algo mais do que uma discussão
de pontos que não se interligam e não podem ser aplicados a realidade.
Uma vez
que no pensamento atual as pessoas passam a considerar todos os textos como
essencialmente totalizantes, ou a considerar que todas as religiões possuem o
mesmo fundamento epistemológico, ou a pensar que todos os enunciados religiosos
são em princípio não impositivos, exceto para aqueles que optam por seguir uma
tradição específica, torna-se menos evidente por que alguém deva considerar
sagrada a Bíblia, por exemplo, menos ainda lê-la, a menos que essa pessoa
também esteja lendo muitos outros textos religiosos e atribuindo a todos eles a
mesma autoridade.[3]
Nosso
desafio, então, é manter a Fé em Jesus como o salvador, demonstrando que ele
possui as respostas certas para todas as questões da alma humana, seja no
passado, presente, ou futuro.
É necessário
também nos acostumar “com a ideia de que caminhos que hoje parecem os mais
adequados podem valer por um certo tempo, não mais do que isso. No dia a dia
essa fugacidade é muito complicada. Não para as pessoas que já estão operando
nessa nova dinâmica. Menos ainda para as novas gerações, que já nasceram nesse
mundo fluido e volátil. Para as gerações
mais velhas e adaptação é mais difícil”[4]
Para
muitos, a fragmentação e a instabilidade parece um caminho por demais
complicado. Não um caminho de riscos, mas de incertezas. Porque o risco pode
ser calculado e a incerteza não. A imprevisibilidade hoje é tão grande que, em
alguns casos, não se pode calcular nada.[5]
O ritmo
e a profundidade das mudanças desse nosso tempo é de uma natureza nunca vista.
No passado o ritmo era mais lento e o impacto da mudança menor. Um exemplo foi
a revolução industrial no século XIX, que sem dúvida mudou muita coisa.
Contudo, na Inglaterra, muitas pessoas foram afetadas indiretamente pela
invenção da máquina a vapor, mas diretamente poucas pessoas foram afetadas
naquele momento.
A
revolução de hoje no âmbito da comunicação, por exemplo, é diferente. Quem não
tem celular? A revolução das comunicações afeta a todos. Lembro-me de uma
reportagem de pescadores na Amazônia que se comunicavam por celular com os
outros para avisarem onde estavam os peixes, isso aumentou a produção daquela
comunidade, pela comunicação eles sabem quanto está o quilo do pescado na
região mais próxima, etc.
[1] CARDOSO, Fernando Henrique. A soma
e o resto.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2012. p. 79. Refiro-me a
Fernando Henrique Cardoso como Sociólogo e não como ex-presidente do Brasil,
pois as citações que faço dele são fruto de sua produção acadêmica e não
necessariamente do cargo que ocupou. Obviamente os 8 anos que ele ocupou a
presidência do Brasil lhe ampliaram o conhecimento, contudo, optei pela
denominação de sociólogo para não correr o risco da leitura ser encarada como
uma produção meramente de política partidária.
[2] Idem, p. 82
[3] CARSON, D.A. Igreja emergente:
o movimento e suas implicações. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 97
[4] CARDOSO, 2010, p. 91.
[5] Idem.
Para onde caminha a humanidade é a pergunta que as vezes faço em minhas orações.vivemos num mundo de incertezas, onde o conflito de identidade tem embriagado a muitos. e tem sido causa de tantos absurdos que temos vistos, muitas vezes impassíveis. Isso fica clarificado nos comportamentos de ícones da história política do nosso país.O Brasil vive uma fase ambigua,sócio-política e econômica, pois se por um lado crescemos em lastro, autonomia e desenvolvimento tecnológico, por outro ainda somos vitimas de descaso na educação, saúde, segurança e outras necessidaddes básicas, comuns em qualquer pais sério.
ResponderExcluiraté quando os milhoes de miseráveis sustentados pelas bolsas do Governo suportarão essse "status quo" tupiniquin, usados como massa de manobra para intentos obtusos. o conceito de consciência social é indecifrável para esses milhoes. somos nós os formadores de opnião que temos a precípua missão de esclarecer, dirimir e conduz-los no caminho da verdade e, nesse desiderato, teremos a certeza que que o que recebemos de Deus, estará sendo usado nao para manipular, nem nos locupletar, mas para que haja crescimento político, social e intelectual sadio do nosso povo, que um dia poderá enterder e exercer sua cidadania plena.
Raciocínio interessante. Obrigado pela participação.
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