quarta-feira, 18 de julho de 2012

Alcançando Misericórdia



Escrevo poucas palavras sobre misericórdia com base no Salmo 51. Esse Salmo é dirigido a Deus. É uma oração, primeiramente por perdão, com uma confissão humilde de atos pecaminosos provenientes de uma natureza pecaminosa com sua raiz amarga. Na sequencia Davi clama por renovação e santificação por meio do Espírito Santo.

Este Salmo não é um estudo teológico bem elaborado, mas é um clamor apaixonado de um coração profundamente atribulado. Há neste salmo um movimento natural de pensamento, que inicia por um clamor por perdão, e segue com a percepção mais profunda do problema, depois segue com uma oração por pureza e promessa se servir a Deus.

Este Salmo poderia ser contemporâneo nosso. Todos os dias pessoas são afligidas por sua consciência, ou acusadas pelo mal, ou por outras pessoas, por pecados praticados, sejam eles premeditados, ou não.
Acredito que Davi tem algumas coisas a nos ensinar.

Em primeiro lugar não podemos fazer pressão por perdão. A petição é baseada na graça e misericórdia de Deus, nada em nós (vv. 1-4).

A petição inicial, “compadece-te de mim”, é a linguagem que não faz jus ao favor, que implora benignidade, porém, é uma palavra da aliança. Apesar de nada merecer, Davi sabe que ele ainda pertence a Deus. É como o paradoxo nas palavras do filho pródigo: Ao mesmo tempo que se refere ao seu pai como “pai”, diz:  “... já não sou digno de ser chamado teu filho”. Ou seja, a despeito dos problemas permanece filho!!

Davi sentiu uma culpa profunda por sua conivência, mentira, adultério, e, finalmente assassinato. Por trás dessas transgressões ele consegue enxergar a raiz e a causa desse problema. Assim ele ora a Deus para que o purifique do seu pecado. Ele não procura encobrir ou desculpar-se. Embora outros tivessem sido extremamente injustiçados, na essência todo o pecado é contra Deus, e Deus será o juiz.

Em segundo lugar, reconhecer que temos um problema é fundamental para a restauração (vv. 5-9). A convicção de Davi se aprofunda ao incluir não somente o que ele fez, mas também o que ele era por natureza: “Em iniquidade fui formado”. Ou seja, concebido em pecado (5). As tendências e disposições pecaminosas têm sua origem na contaminação da raça humana, parte da dívida do homem como nascido de uma raça caída.

Essa percepção leva Davi a uma oração renovada por purificação. Utiliza o termo hissopo, que trata de um ramo de arbusto usado para aspergir o sangue sobre um leproso para a sua purificação e cura (Lv 14.4; Hb 9.13,14; 1 Jo 1.7). A palavra “lava-me” é impressionante! Tem duas possibilidades no Hebraico, uma lavagem normal na água com sabão; ou como as mulheres lavavam roupas muito sujas batendo na pedra. Ou seja, ao invés de um banho quente e relaxante Davi prefere um tratamento profundo. Ele sabe que o pecado está entrincheirado em sua natureza e que Deus literalmente precisa tirá-lo com batidas! Assim ele ficará mais alvo do que a neve, sem nenhuma partícula de poeira ou fuligem.

A convicção do pecado era tão forte que era semelhante a dor de ossos quebrados. Ossos significam a força e a estrutura do corpo, por isso esmagar os ossos é uma figura muito forte que significa uma prostração completa, tanto mental quanto corporal. A intervenção e a ação de Deus são a única esperança do salmista (9).

Em terceiro lugar, aprendemos que aos perdoados Deus restabelece a alegria e a paz, que são consequências de um coração que se torna ensinável (vv. 10-13). Assim, o resultado é um coração puro, e a renovação de um espírito Reto. A palavra cria tem o significado de uma operação criativa de Deus. Ou seja, uma nova vida. Davi não deseja uma restauração do que existia antes, mas uma mudança radical do coração e do espírito.

Espírito reto é um espírito estável, ou espírito inabalável. Com isso o salmista está convicto que Deus assegurará a sua presença e a plenitude do seu Espírito Santo. A pureza resultará na alegria da salvação e a manutenção de um espírito voluntário, ou pronto a obedecer.

O Salmo nos ensina que aos perdoados o caminho natural é proclamar a salvação do Deus perdoador, assim como prometer adorá-lo para sempre. Nossa vida, precisa do perdão de Deus. Deus quer nos perdoar. Devemos voltarmo-nos a ele, confessar nossas transgressões. Assim seremos limpos, tratados. Teremos uma vida de paz e felicidade na presença do Senhor que nos criou. Aproveitemos e vivamos a liberdade cristã que só a fé em Jesus Cristo como filho de Deus pode oferecer.

Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.
Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito.
Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer.
Salmos 51.10-12

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Assembleia de Deus é a maior Igreja Evangélica do Brasil




Em 1940, ano em que o quesito religião começou a fazer parte do censo do IBGE, mais de 95% das pessoas se declaravam católicas; nos anos 70, esse número já havia baixado para 90% e em 1991 a porcentagem chegou a 83%, em 2010 o percentual estava em 64,6% da população. No entanto, a quantidade de evangélicos, que envolve diferentes congregações, como a Assembleia de Deus, com mais de doze milhões de fiéis, cresceu de pouco mais de 2%, em 1940, para mais de 22,2%, segundo o censo de 2010. Há projeções que em 20 anos mais da metade da população seja evangélica. Nesse caso a Assembleia de Deus ultrapassa 30% do total de evangélicos do Brasil.

Outro dado interessante que fica claro no censo, que as projeções já demonstravam, é que igrejas que estão na mídia podem ter mais projeção e exposição televisiva, porém não possuem presença real e física na totalidade do território nacional. Nesse caso, por exemplo, a Igreja Universal diminuiu a sua membresia em mais de 300.000 pessoas em relação ao censo do ano 2000, ficando com um total de 1,9 milhão de membros. Sendo que é a primeira vez que é registrada uma diminuição relacionada de uma igreja que não seja fruto de imigração (como por exemplo, os luteranos que historicamente no Brasil estão associados a imigração alemã). Contribuindo ainda para esse fenômeno o surgimento de novas igrejas na mesma linha de trabalho da Universal. Como diz o sociólogo Ricardo Mariano, “esse fenômeno contribui para a privatização da fé em relação a essas igrejas, onde não há um compromisso específico com a organização em si”. Nesse caso há o interesse pessoal, por exemplo, na “bênção”, levando o fiel a migrar para onde mais lhe interessa. Criando o fenômeno da igreja flutuante.

É necessário citar a questão da mídia em relação às igrejas. Há uma linha na missiologia que defende a importância das mídias para a evangelização, como rádios, televisão, internet, entre outros. Obviamente concordo com isso. Contudo, implantação de igreja está identificada com relacionamento pessoal, como contato direto. As mídias somam no processo de evangelização, mas não são determinantes, e o crescimento contínuo da Igreja Assembleia de Deus, que está intrinsecamente ligada à sua constante evangelização e a prática de implantação de igreja, é um prova disso.

Se a média nacional é de 22,2% da população evangélica, na Paraíba é de 15,1%. A SEMAD-PB possui uma parceria com a Sepal para realizar uma pesquisa no estado e cruzá-los com os dados obtidos do censo. Pessoalmente penso que quando concluirmos esse levantamento, o resultado nos surpreenderá.

Nós, paraibanos, ainda temos muita terra a conquistar, mas é inegável o avanço. No censo passado havia dezenas de municípios com menos de 1% de evangélicos em nosso estado. Graças a Deus essa realidade não existe mais! As análises preliminares demonstram que menos de 20 municípios dos 223 possuem menos de 5% de evangélicos (ainda estamos fazendo uma análise mais profunda nos dados do censo e posteriormente daremos dados mais precisos). Obviamente esse crescimento é fruto de trabalhos de várias igrejas, mas nós, que fazemos parte da Assembleia de Deus e que estamos presente em todos os municípios do estado, temos sido incansáveis em projetos de evangelizações em pequenas cidades, distribuição de literaturas (somente a SEMAD, nos últimos 7 anos confeccionou e distribuiu mais de 1 milhão de literaturas evangelísticas), obreiros de nossa igreja implantaram centenas de igrejas em regiões consideradas não alcançadas nos últimos 10 anos. Somente a igreja da capital, após a presidência do Pr. José Carlos de Lima, implantou mais de 60 igrejas nesses 10 anos!

Vamos seguir em frente. Sabemos que Deus tem interesse nesse projeto e é Ele que dará as estratégias e o crescimento. Junte-se a nós, ainda há muita terra a ser conquistada.

Pr. Eduardo Leandro Alves
Sec. Exec. de Missões da SEMAD-PB

sábado, 30 de junho de 2012

Qual o sentido da vida?



Qual o sentido da vida? Essa pergunta é tão antiga quanto a existência humana.

A morte é o limite da vida. Embora pareça redundância, a percepção dessa verdade muda para sempre a nossa vida. Esse tem sido um dos principais temas das filosofias existencialistas.

A vida é ambígua. Abraão morreu já velho e farto de dias, Saul tomou a sua espada e lançou-se sobre ela. Seu filho Jônatas, o fiel amigo de Davi, foi morto no auge da juventude. Judas o traidor enforcou-se. Enoque foi arrebatado por Deus e não foi mais visto.

Avalanches soterram crianças que há pouco ainda sorriam e brincavam. Avalanches não podem ser chamadas à responsabilidades, tal como soldados que abatem crianças, mulheres e velhos. O que é a morte, já que, por um lado, podemos ser responsabilizados por ela e, por outro lado, somente podemos defrontarmo-nos com ela na total ausência de relação de impotência e perplexidade...?

Eberhard Jungel, escrevendo sobre a questão da finitude humana, diz que o neurótico não pode realizar o seu eu e, nessa incapacidade de realizar-se contrai uma enfermidade fatal. Pessoas aposentadas que permitem que se lhes roube a relação ativa do futuro estão ameaçadas pela assim chamada morte por aposentadoria. neste caso, a morte já seria o princípio do fim do futuro de uma vida temporal?

Simeão, já velho, tendo visto o recém-nascido Jesus no Templo, louvou a Deus dizendo: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação” (Lc 2.28). O fato é que diante de uma vida bem vivida, a morte parece perder o seu terror. Por isso, vivamos uma vida para Deus.

Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem.
Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal. 
Eclesiastes 12.13-14

domingo, 17 de junho de 2012

O PROBLEMA DO MAL DE ASAFE !



O mal de Asafe ainda não está catalogado como doença, mas tem feito vítimas aos montões. Essa é uma típica patologia que corrói a mente, vai apagando todas as certezas e transforma a alma que um dia foi vibrante num saco de dúvidas e revolta.

O mal de Asafe chama-se assim por causa do seu mais famoso paciente, um tal de Asafe, ministro de música, cuja experiência está num dos cânticos do saltério hebraico. No salmo 73, ele mesmo se queixa da doença, dá o diagnóstico e descreve sua cura.

As vítimas do mal de Asafe são propensas à zombaria, à militância ateísta, à agressão, ao álcool, às drogas, à devassidão, ao suicídio. Não poucos personagens bíblicos padeceram desse grave distúrbio. São muitos os pacientes da doença de Asafe e uma triste realidade tem de ser admitida, nem todos alcançam a graça da cura, como aconteceu com o próprio Asafe. É preciso tomar mais cuidado com o mal de Asafe, principalmente em tempos tão violentos como os nossos, por razões óbvias.

Agora, quem era Asafe? Ele um judeu, da tribo de Levi, e músico por vocação e deleite (seus filhos também foram músicos 1 Cr 25.1). Seus instrumentos preferidos: a harpa, o alaúde e o címbalo, todos muito antigos. Nas suas apresentações usou com mais frequência os címbalos sonoros e os címbalos retumbantes, instrumentos de percussão compostos geralmente de dois discos de metal, que têm no centro uma pequena cavidade para aumentar a sonoridade. Foi designado músico e cantor pelos levitas, que tinham sob sua responsabilidade os serviços religiosos de Jerusalém (1 Cr 16.4,5). Participou do magnífico cortejo musical que levou a Arca do Senhor da casa de Obede-Edom para a tenda armada pelo rei Davi (1Cr 15. 17,19. Naquele dia o rei o descobriu e fez dele ministro de música. Porque também era músico — exímio tocador de harpa e profícuo compositor de salmos —, Davi deu grande ênfase à música de adoração, como expressão de louvor a Deus. Ele fazia questão de que se levantasse a voz com alegria e reservava a si a supervisão geral de toda atividade litúrgica. Eram 4 mil levitas, que, em 24 turnos, louvavam continuamente o Senhor com instrumentos fabricados por ordem do rei para esse fim. A maior parte era formada de iniciantes, que aprendiam música com os mais competentes. Era uma verdadeira escola de música sacra. Seus filhos faziam parte do corpo docente — 288 mestres ao todo. Os filhos de Asafe escreveram doze dos 150 salmos que estão na Bíblia (os onze primeiros do livro terceiro e o salmo 50). Nesta pequena reflexão quero tratar um pouco a crise que vivenciou e da qual Asafe fala no salmo 73.

Como disse Rui Barbosa, “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” Penso que Asafe chegou a desanimar da virtude. E esse desânimo o levou a uma terrível crise existencial. Quase resvalaram os seus pés em direção ao abismo da incredulidade. (v.2) Pouco faltou para que ele rompesse com a ideia de um Deus sábio, bom e justo, e jogasse fora a rica tradição religiosa até então acumulada. Esteve bem perto de uma violenta mudança de pensamento e de comportamento. Quase trocou os oráculos de Deus pelo horóscopo do dia. Quase trocou o templo do Senhor por um terreiro de macumba. Quase mandou tudo para o inferno, inclusive sua própria alma!

Seu problema é que ele passou a ter inveja dos pecadores. Ele dizia: “eu também sou como eles, sujeito aos mesmos sentimentos e paixões. Por uma questão de princípios e pelo temor do Senhor, eu abortava na fonte os desejos pecaminosos”:

Quantas vezes desejei vingar-me,
Quantas vezes fui açoitado pela ira,
Quantas vezes quis projetar-me,
Quantas vezes fui assaltado pelo egoísmo,
Quantas vezes a falta de recato da mulher alheia me atiçou a lascívia,
Quantas vezes senti desânimo e preguiça.
Mas o amor a Deus falou mais alto,
Meu coração guardei puro,
Resisti os maus desígnios,

Asafe, ao que parece, ofereceu forte resistência a todos esses sentimentos e deles se privou por amor do Senhor e por causa de seu nome. De repente se sente frustrado e se pergunta: “Será que foi à toa que eu me esforcei para não pecar e permanecer puro?”.

Pois, enquanto ele crucificava a sua carne, os pecadores pareciam livres, desinibidos, evoluídos, descomplexados, bem-sucedidos, felizes, seguros, altivos e tranquilos. O que mais o desnorteou foi a falsa impressão de que seu zelo não lhe rendia nada. Ele pensava: “Deus não me trata de modo todo especial”. “Ele não me poupa das intempéries, do cansaço, da aflição, da doença nem da disciplina em caso de erro, por menor que seja”. Outra coisa que machucava o salmista era a popularidade dos pecadores e o seu aparente anonimato.

A crise que a que foi acometido não foi brincadeira. Demorou algum tempo e o desgastou muito. Tentou descobrir o que estava acontecendo, mas em só refletir para compreender isso, achou mui pesada tarefa para ele. Até que um dia Asafe entrou no santuário de Deus e compreendeu o fim último dos ímpios e pecadores que ele estava invejando.

Dentro do templo é outra coisa. Dentro do templo sua vida ganha outra dimensão. Ganha-se, ou recobra-se, como foi no seu caso, a perspectiva cristã da vida, que envolve o tempo presente e a eternidade.

Renova-se a fé na existência e no caráter de Deus. Chega-se outra vez aos seus atributos invisíveis — Ele é eterno, imensurável, incompreensível, onipotente e também supremamente sábio, clemente, justo e verdadeiro.
Dentro do templo somos contrastados com a santidade de Deus, assim eu me senti orgulhoso, desrespeitoso e insolente por haver duvidado da justiça de Deus para comigo e para com os pecadores. Percebi que eu havia retirado o meu voto de confiança em Deus e por isso estava perplexo.
Dentro do templo sua alma se abre e é derramada perante o Senhor a sua ansiedade, a sua aflição, a sua dúvida, a sua revolta.

Então, Asafe começa a entender e ver com clareza. No templo ele se lembra, quem sabe, do salmo de Davi: “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniqüidade” (Sl 37.1). Tivesse ele memorizado melhor esse salmo, a crise teria sido mais passageira, pois o ímpio prepotente nesta vida se expande qual cedro do Líbano (v. 35), mas será como o viço das pastagens: será aniquilado e se desfará em fumaça (v. 20). Nada teria acontecido a Asafe se não tivesse perdido a certeza de que “mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios” (v. 16). Tão perto dele, tão frequentemente em seus lábios, por que razão deixou o salmista escapar o ensino e o conforto deste salmo e não o aplicou a si mesmo?

Ainda dentro do templo Asafe percebeu que o desastre ocorreu quando a crença tradicional na justiça divina começou a ser abalada em sua mente. Se há algo que precisa permanecer intocável é exatamente a certeza de que Deus “é recompensador dos que o buscam, mas justíssimo e terribilíssimo em seus juízos, odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado”.

Quando o salmista Asafe saiu do templo estava refeito, curado, revivificado, alegre e disposto, e, ao mesmo tempo, solícito em alimentar-se da verdade, como ensina Davi ainda no salmo 37 (v. 3). Toda a mágoa desapareceu. Dizia ele: “Os pecadores continuam a se afastar do Senhor; mas..., quanto a mim, bom é estar junto a Deus: no Senhor ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos, em prosa e em verso, com címbalos retumbantes e com címbalos sonoros, entre gritos de alegria e louvor — eu, que quase troquei a música de adoração pela música profana! Graças a Deus não me tornei pedra de escândalo para os meus 4 mil instrumentistas e cantores e toda a nação de Israel!”

Permaneça no templo, não apenas o de alvenaria, mas em relação a estar na presença de Deus desfrutando de sua companhia. Que essa experiência de Asafe fale ao seu coração e lhe transmita ensinamentos para a sua caminhada com Jesus!


terça-feira, 12 de junho de 2012

A Felicidade


Bem aventurados...
Segunda a ideia contida no Evangelho segundo escreveu Mateus 5.1-11, a felicidade não está em um lugar ao qual chegamos, em um nome de rua, um número de casa, um CEP, mas na maneira como caminhamos, como vivemos a vida. A felicidade é o maior anseio do ser humano. Corremos a todas as fontes que nos prometem o segredo da felicidade. Jesus nos dá a receita da verdadeira felicidade, e, a boa notícia é que a felicidade não é algo que compramos com dinheiro, mas um presente que recebemos de Deus. O dinheiro pode nos dar uma casa, mas não um lar; pode nos dar conforto, mas não saúde; pode nos dar um rico funeral, mas não vida eterna; pode nos dar aventuras, mas não a felicidade verdadeira.

Devemos entender que a felicidade não está nas coisas que vemos, mas é uma atitude do coração. Não é um pagamento de nossas virtudes, mas um presente da graça. Não é algo que conquistamos pelo esforço, mas um dom que recebemos pela fé.

São sobre essas questões que Jesus trata na introdução do Sermão do Monte, nas Bem-aventuranças. A ideia é que a felicidade não procede do mundo, mas de Deus, pois é na presença de Deus que existe alegria verdadeira e perene. Nesta perspectiva o filho pródigo descobriu que a felicidade não está nos amigos que partiram quando seu bolso esvaziou. A felicidade que o mundo proporciona é passageira e superficial, não resiste aos tempos de crise, aos tempos de invernos. Quando o dinheiro acabou e os amigos foram embora, sentiu o vazio e a solidão da infelicidade. Percebeu que o pecado é uma fraude; promete prazer e produz desgosto; promete vida e gera a morte.

A busca do prazer, da alegria, em si, não é errado, é legítima, mas só pode ser encontrada em Deus. Agostinho, no seu livro confissões declarou: “Senhor, tu nos criaste para Ti, e a nossa alma não encontrará descanso até repousar em Ti”.

Pr. Hernandes Dias Lopes diz que a verdadeira felicidade é um paradoxo aos olhos do mundo, pois consiste em abraçar o que o mundo repudia e repudiar o que o mundo aplaude. Leon Morris diz que essa Bem-aventurança revela o vazio dos valores do mundo. Exalta aquilo que o mundo despreza e rejeita aquilo que o mundo admira. A ideia é que os valores do Reino de Deus são como uma pirâmide invertida. Jesus diz que feliz é o pobre, o que chora, o manso, o puro, o perseguido. Jesus diz que feliz é o pobre de espírito, ou seja, aquele que não se acha autossuficiente, arrogante e soberbo. Jesus diz que feliz é o que chora e não aquele que é durão e insensível. Jesus diz que feliz é o manso, o que abre mãos dos seus direitos e não o valentão que se envolve em brigas intermináveis. Jesus diz que feliz é o pacificador, aquele que não apenas evita contendas, mas busca apaziguar ânimos exaltados dos outros. Jesus diz que feliz é o puro de coração, e não aquele que se banqueteia com todos os prazeres do mundo. Jesus diz que feliz é o que é perseguido por causa da justiça, e não aquele que busca levar vantagem em tudo.

Jesus diz que aquele que ganha a sua vida a perde; mas o que a perde, esse é quem ganha. Jesus diz que o humilde é o que será exaltado. Thomas Watson diz que o mundo pensa que feliz é aquele que está no pináculo, no lugar mais alto; mas Cristo pronuncia como feliz, bem aventurado, aquele que está no vale. 

Assim como a pobreza em si não é um bem, também a riqueza em si não é um mal. Mas o  fato é que essa felicidade não está centrada em coisas externas. Jesus não disse que bem-aventurados são os ricos. Pois, as riquezas por si só não satisfazem. Deus colocou a eternidade no coração do homem, sendo assim, nem todo o ouro da terra poderia preencher o vazio da nossa alma. A verdadeira felicidade não está centrada na posse de bênçãos, mas se encontra na fruição da intimidade com o abençoador. Para alcançar a felicidade, não basta tomar posse (confissão positiva), mas fruir as bênçãos. Um homem pode morar num palácio e não se deleitar nele. Pode ter domínio de um reino e não ter paz na alma. Há uma tendência em todas as possessões materiais de obscurecer as necessidades que elas não podem satisfazer. É a ideia de que uma mão cheia ajuda um homem a esquecer um coração vazio, pois as coisas que comumente esvaziam a vida são as que prometem preenche-la.[1] Jesus tratou disso quando contou a história de um homem que ajuntou muitas coisas em seu celeiro, mas continuou de alma vazia...

A felicidade não está no topo da pirâmide social, nem mesmo no prestígio político e econômico. Quando Davi pecou com Bate-Seba, continuou no trono, mas a mão de Deus pesava sobre ele de dia e de noite. Seu vigor tornou-se sequidão. A alegria fugiu da sua face, e a paz foi se embora do seu coração. A verdadeira felicidade é deleitar-se em Deus, é alegrar-se com o seu sorriso em Deus (Sl 36.8)

Os crentes não serão felizes apenas quando chegarem ao Céu; eles já são felizes antes mesmo de serem coroados. São felizes não somente na glória, mas a caminho da glória.

Sendo assim, as Bem-aventuranças é destinada aos pobres de espírito. Ela faz referencia ao interior e não ao exterior, não ao corpo, mas a uma disposição do ser. Enquanto não formos pobres de espírito Cristo não será precioso para nós, enquanto não formos pobres de espírito não estaremos prontos para receber a graça de Deus. Aqueles que abrigam sentimentos de autossuficiência e sentem-se saciados de si mesmos jamais poderão ser cheios de Deus. Enquanto não formos pobres de espíritos não poderemos ir para o céu. 

Pois os Reino de Deus pertence aos pobres de Espírito. A porta do Céu é estreita e aqueles que se consideram grandes aos seus próprios olhos não podem entrar lá. Sendo assim, o Reino é concedido ao frágil e não ao poderoso; às criancinhas bastantes humildes para aceitá-lo, mas não aos soldados que se vangloriam de poder para obtê-lo por meio de sua própria bravura.


[1][1] HASTINGS, James, apud, LOPES, Hernandes Dias. A felicidade ao seu alcance. São Paulo: Voxliteris, 2008, p. 18.

sábado, 12 de maio de 2012

Religião e Mercado



Pensando de forma simplista sobre algumas situações atuais em relação a fé dá para começar a ficar preocupado. Por exemplo, quando um Padre se torna símbolo sexual, realizando shows, usando calças de couro, faz musculação, camisas apertadas e as mulheres gritam: “gostosão”!  Quando alguns Pastores mais parecem empresários bem sucedidos que administram as igrejas aplicando princípios do “mercado” oferecendo um produto a ser consumido pelas massas. Onde missas católicas são em ritmos de aeróbicas, cultos evangélicos são feitos para entreter os frequentadores e o local arquitetonicamente projetado para a satisfação pessoal e mensagens milimetricamente preparadas para massagear o ego, mas não acusar o pecado, com certeza temos um grande problema.
Não sou necessariamente contra a realização de shows. Mas eles devem ser colocados no seu devido lugar, serem entendidos como isso: apenas como um show, um entretenimento que necessariamente não é errado ou pecaminoso. Mas o fato é que não questionam nada, nem promovem nenhuma mudança real na igreja, por isso não devem ser confundidos com o que, historicamente chamamos de culto de adoração a Deus que produz quebrantamento, arrependimento. Onde a santidade de Deus é contrastada com a nossa pecaminosidade. Pois em meio a tudo isso o evangelho e a evangelização são outra coisa. Porém, parece que já não é mais prioridade. A prioridade é a renovação do sentimento religioso, a redescoberta do prestígio sobrenatural do líder e do prestígio social da igreja, como já foi defendido por um famoso teólogo de nosso tempo.

Em muitos aspectos o evangelho entra em conflito, ou até mesmo em contradição com essa realidade que, para muitos, vai se tornando natural. Muitas das lideranças cristãs, no afã de verem as massas lhes seguindo acabam por adaptar a mensagem às demandas desse “mercado religioso”, com isso anunciam o que as pessoas querem ouvir. Nesse caso ocorre uma subordinação da Missão da Igreja à demanda dos consumidores religiosos.

O problema é que esse modelo se esgota com o tempo. Ao tratar os membros como sócios, ou clientes, logo eles exigirão direitos de consumidores, consumidores religiosos. Levando, por parte dos líderes a um ciclo permanente de inovações, assim como o mercado da tecnologia, onde um celular envelhece em seis meses. Hinos que duram um verão, pregadores que duram uma temporada, verdadeiras estrelas cadentes. Esse sistema gera pessoas que vão à busca das “promoções do mercado religioso” migrando sempre que surge uma “boa promoção”. Pastores que caem nessa armadilha, dificilmente serão lembrados pela próxima geração. Isto é, caso venha a existir uma outra geração para os que seguiram esse caminho de subordinação da Missão da Igreja ao markenting de mercado.
Essa subordinação pode ser entendida como a vitória da lógica do marketing sobre a lógica religiosa ou profética. Na lógica do markenting empresa (ou igreja) procura, em primeiro lugar saber quais são os desejos dos consumidores e a partir disso elabora os seus produtos (bens físicos, simbólicos ou discursos), para atender esses desejos. Enquanto que na lógica profética procura-se conhecer primeiro a vontade de Deus, ou a verdade a ser alcançada através de uma iluminação e depois se anuncia essa verdade mesmo que ela entre em conflito como desejo da maioria da população. Os profetas sempre denunciam o que há de errado na sociedade, nas instituições religiosas e na vida das pessoas e anunciam a esperança de um novo porvir, de uma alternativa possível. Talvez por isso, que, via de regra, os profetas aos olhos humanos “sempre se deram mal”. Elias foi ameaçado de morte, assim como Eliseu, Jeremias foi preso, Daniel traído... a lista seria longa se fossemos tratar de todos, inclusive os discípulos que sofreram martírio, os cristãos primitivos da igreja, etc.

Encerro parafraseando Eugene Peterson: Aplauso estatístico não tem nada a ver com fidelidade. Uma imagem pública brilhante não tem nada a ver com obediência. A Palavra Bíblica “obedecer é melhor do que sacrificar” (1Sm 15.22) é uma proclamação magnífica e clara do tema que mais tarde é retomado e muito bem pregado por Isaías (1.11-15), Amós (5.21-27) e Oséias (6.6). Deus continua a separar os que manipulam a comunidade da fé para servir a si mesmos do que sevem ao Senhor da Igreja.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Não Será Assim Entre Vós






 E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre, queremos que nos faças o que te pedirmos.E ele lhes disse: Que quereis que vos faça?E eles lhe disseram: Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda.Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas;Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal;E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mc 10.35-37,42-45).

            Sempre que estou em um velório, ou fazendo a cerimônia fúnebre, nunca sei muito bem o que dizer, muitos pensamentos me veem à mente. Um deles é que todos nós somos finitos. Diante da morte percebemos a nossa pequenez, lembramos que somos pó e para o pó voltaremos. Toda e qualquer presunção de força ou superioridade se perde diante da morte.
            Salomão, o sábio, disse que preferia estar em uma casa onde há luto do que em uma casa onde há festa. A festa nos faz ter uma falsa ideia de normalidade, as festas por vitórias que alcançamos, pode nos fazer ter a ideia de sermos super-homens. Porém, onde há luto, nos faz refletir, pensar na vida.
            O texto de Marcos 10.35-37,42-45, nos mostra dois seguidores de Jesus pedindo uma posição de destaque ao lado dEle. O que eles queriam era ter proeminência sobre os demais discípulos. Eles queriam posição, status. Jesus responde a eles dizendo que no Reino de Deus a coisa funciona diferente. Jesus quer mostrar-lhes que no Reino não há lugar para prepotência, orgulho ou soberba. Ou seja, o Reino de Deus não é como o reino do mundo.
            Na edição do dia 23 de junho de 2007 a revista Veja fez uma reportagem sobre as intrigas que há entre alguns ministros do governo Lula. Como a própria reportagem conclui, são intrigas com o único objetivo de obter mais poder. É uma leitura dos bastidores do poder na República do Brasil. É assim no reino dos homens. Mas não deve ser assim entre os súditos do Reino de Deus.
Com lágrimas nos olhos constato que, em muitos meios eclesiásticos, são essas atitudes que estamos vendo. Conchavos políticos para conseguir cargos na administração, mentiras, invejas, influência do poder econômico de alguns para se sobrepor, busca do poder pelo poder. Talvez, hoje, mas do que nunca, vale a pena lembrar-se das palavras de Jesus; “NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VÓS”.
No Reino de Jesus, só há lugar para quem tem sentimento de servo. O que Ele quer de nós é que tenhamos o mesmo sentimento que Ele teve (Fl 2.5-8), o sentimento de servo. Para os que entram na corrida por posição e triunfo, não há vencedores, é uma corrida perversa que no fim esmagará a nossa alma. Há uma citação do livro “Sete Hábitos das Pessoas Muito Eficazes”, escrito por Stephen R. Covey, que nos traz ensinamentos brilhantes:
            “Quando olho para as tumbas dos grandes homens, qualquer resquício de sentimento de inveja morre dentro de mim; quando leio os epitáfios dos magníficos, todos os desejos desordenados desaparecem; quando me deparo com o sofrimento dos pais em um túmulo, meu coração se desmancha de compaixão; quando vejo a tumba dos próprios pais, lembro-me de como é vão chorarmos por aqueles que logo seguiremos; quando vejo reis colocados ao lado daqueles que os depuseram, quando medito sobre os espíritos antagônicos enterrados lado a lado, ou os homens sagrados que dividiram o mundo com suas discussões e contendas, medito cheio de dor e surpresa, sobre a pequenez das disputas, facções e debates da humanidade. Quando leio as variadas datas dos túmulos, algumas recentes, outras de seiscentos anos atrás, penso no grande Dia, no qual seremos todos contemporâneos, e faremos nossa aparição conjunta”.
            A sedução do aplauso é vã. As disputas e invejas nos igualam aos homens maus. O Reino de Deus é diferente, o maior é o menor; a matemática de Deus é diferente, Ele deixa noventa e nove ovelhas para buscar uma; revira toda uma casa arrumada para encontrar uma simples drácma perdida. Os valores do Reino são superiores, não podemos trocá-los pela moda do dia.
            Houve um homem na história, filho de um bom pai, educado nos princípios religiosos que seus pais haviam recebido de Deus, mas que não conseguiu compreender os princípios o Reino de Deus. A história não o perdoou. Esse homem é Esaú. A história acusa Esaú de trocar a benção futura por um prazer imediato (Hb 12.16), dando a ele um adjetivo: profano.
            Não quero ser lembrado como profano e inescrupuloso. Daqui a muitos anos escreverão a nossa história e a pergunta é: Como seremos lembrados? O meu desejo é que, quando falarem da nossa geração, possam falar de pessoas que viviam sob as leis do Reino; pessoas que entenderam a orientação de Cristo: “NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VÓS”.