Dando sequencia a nossa proposta apresentada na postagem a
anterior, ampliamos o debate tratando sobre uma pequena abordagem sobre a
globalização por uma ótica do mundo financeiro, ou seja, da mundialização do
capital.
ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A GLOBALIZAÇÃO
Não se pode falar em “ética global” sem ao menos pontuar a
questão da globalização. Alguns autores procuram compreender as políticas
neoliberais que vem sendo implementadas a partir dos anos de 1980 e 1990, como
parte integrante de um novo modelo de regulamentação, correspondente ao regime
de acumulação predominantemente financeiro, que emergiu na década de 1970, com
o fim do fordismo[1]. A mundialização do capital (uma outra
expressão para globalização) precisa ser revista, pois é a partir daí que se
inicia o desmonte do sistema de seguridade social, que, segundo Guhur, é fruto
de uma ideologia neoliberal.[2]
Agora, o que se entende por mundialização do capital? Quero
somar às informações da autora citada acima, algumas informações obtidas da
leitura de um artigo do Dr. Giovanni Alves, Sociólogo e doutor em ciências
sociais (UNICAMP),[3] que nos auxiliam na compreensão do
termo.
A nova etapa de desenvolvimento do capitalismo mundial,
caracterizada como sendo a da "mundialização do capital", na verdade,
nos coloca diante de um novo regime de acumulação capitalista, um novo patamar
do processo de internacionalização do capital, com características próprias e
particulares se comparada com etapas anteriores do desenvolvimento do
capitalismo. Esse novo período capitalista se desenvolve a partir de uma
profunda crise de superprodução e é caracterizado por outros autores como sendo
marcado pela produção destrutiva ou ainda pela acumulação flexível.
Uma série de indicadores macroeconômico da década de 90
apontam que a economia mundial ainda mantém-se no interior como sendo uma longa
depressão permeada por momentos de desaceleração, recessão e crescimento
não-sustentado das economias capitalistas. Sendo assim, deparamo-nos com um
novo regime mundial de acumulação do capital, alterou, de modo específico, o
funcionamento do capitalismo. Ele irá denominar a nova etapa do capitalismo
mundial, na falta de uma denominação melhor, de "regime de acumulação
predominantemente financeira", que caracteriza a "mundialização do
capital".
A característica predominante do novo regime mundial de
acumulação capitalista é ser rentista e parasitário, isto é, está de modo
crescente, subordinado às necessidades próprias das novas formas de
centralização do capital-dinheiro, em particular os fundos mútuos de
investimento e os fundos de pensão (as características rentistas dizem respeito
também ao capital produtivo). O poder, se não a própria existência, deste
capital-dinheiro é sustentado pelas instituições financeiras internacionais,
tais como FMI e Banco Mundial, e pelos Estados mais poderosos do planeta a
qualquer que seja o custo.
A "mundialização do capital" é, antes de tudo,
decorrente de determinações políticas. É essencial levarmos em consideração, ao
mesmo tempo, o político e o econômico, para que possamos
compreender a verdadeira natureza da “mundialização do capital”. Na verdade,
uma acumulação predominantemente rentista, reflete mudanças qualitativas
nas relações de força política entre o capital e o trabalho, assim como entre o
capital e o Estado, em sua forma de Estado de Bem-Estar.
Entende-se que o marco histórico da "mundialização do
capital" é a recessão de 1974 - 1975, o início desta "longa crise
rastejante". A partir daí, o capital procurou, de todas as formas, romper
as amarras das relações sociais, leis e regulamentações dentro das quais se
achava possível prendê-lo com a ilusão de poder "civilizá-lo". O
capital teve êxito, apesar de modo bastante desigual, conforme se adaptava em cada
país.
A “mundialização do capital”, na verdade, retirou, a meu ver, a
soberania de países, nações. Nenhum governo, mesmo que democraticamente eleito,
pode tomar decisões que julga ser melhor para o seu povo (que o elegeu), sem
levar em consideração a força desse capital mundial. Como exemplo pode-se ver hoje
a situação da Europa. A Inglaterra, mesmo sem fazer parte da zona do euro,
sente-se pressionada a tomar atitudes que afetarão diretamente os seus
cidadãos, por imposição de outras nações.[4] É bem verdade que o país onde se
iniciou a “revolução industrial” hoje possui pouquíssimas indústrias. Contudo
possui enormes conglomerados financeiros com abrangência mundial. No mundo
atual uma “gripe” na economia chinesa causará uma pneumonia, por exemplo, no
Brasil. Essa é a ideia da “aldeia global”.
[1] Modelo de administração implementado
por Henry Ford em sua linha de produção.
[2] GUHUR, Dominique Michele; SILVA,
Irizelda Martins de Souza. As políticas sociais neoliberais no quadro da
mundialização do capital: um movimento dos anéis sacrificados no passado para
salvar dedos. Revista HISTEBR on Line, Campinas, (35): 76-95 Set. 2009.
[4] Situação ocorrida no início de 2012
onde foi proposto normas gerais de endividamento dos países, limites
econômicos, onde, por exemplo, uma autoridade estrangeira teria poder sobre um
país que não o elegeu.