sexta-feira, 31 de agosto de 2012



A vida como Decisão[1]
Como definir ética? Ética é a ciência (estudo/ensino) que se ocupa com a conduta do ser humano, focando especialmente sua responsabilidade pela organização da vida na sociedade (e perante Deus). Dr. Werner Wise, citando Rabusque, define ética como: “ciência normativa do agir humano em vista do seu fim último”[2].

Mesmo que pessoas tivessem que admitir que ocasionalmente deixavam de viver conforme os critérios e padrões morais da sua sociedade, consideravam isso uma reflexão sobre sua própria imperfeição, e não sobre a validade da lei moral. As pessoas, tanto no passado quanto agora, negavam que fossem malfeitores, que tivessem cometido crimes, mas nunca afirmaram que os culpados não deveriam ser punidos.

Foi deixado por conta de nossa época negar a possibilidade de culpa. Não se está seguro de existir algo como certo ou errado, bom ou mau. E essa completa incerteza acerca dos valores morais está na raiz da terrível confusão de nossa época. Esse caos ético é a razão última de todas as nossas divisões e conflitos. Devido a essa nossa incerteza sobre critérios de certo ou errado, o mundo, que em alguns sentidos está mais unido como nunca (especialmente na comunicação), ao mesmo tempo está simultaneamente dividido como nunca antes esteve.

Se no passado precisávamos percorrer grandes distancias para encontrar princípios morais distintos dos nossos (sair da Europa e ir para a Ásia, Índia, China), hoje basta atravessarmos o corredor de nosso prédio, ou a rua em que se mora para encontrar pessoas vivendo em um mundo completamente diferente, no qual não existe Deus nem lei divina (mesmo que tenha uma crença no sagrado, é uma crença totalmente distinta do que sempre acreditamos e fomos ensinados), onde impera o egoísmo, os instintos animais, a sobrevivência dos mais aptos. Muitas pessoas hoje creem que “certo” é o que é útil para o seu grupo”. Existem tantos mundos quantos grupos desses que acreditam serem sua própria lei. 

A anarquia dos valores dividiu este mundo, materialmente uno, num número sempre crescente de mundos que absolutamente não se compreendem uns aos outros. Podemos usar a mesma linguagem científica, depender economicamente uns dos outros e ter condições de viajar rapidamente de um lugar para outro, porém vivemos cada vez mais em mundos diferentes.

O mundo contemporâneo não está dominado por nenhuma fé específica. O hinduísmo não domina a Índia. Quando se conversa com o hindu moderno ele se mostra tão secularizado quanto o norte americano de grande cidade. A estrutura de valores cristãos também não está dominando os EUA e a Europa. Não existe uma fé dominante e abrangente que daria sentido á vida de todos os seres humanos em toda a parte.

Contudo, falando em nosso contexto brasileiro, somos um país cristão em sua esmagadora maioria. Além disso, evangélicos se multiplicam cada vez mais na sociedade, mostrando que até 2035 metade da população brasileira se identificará como evangélico. Mas, em vista da óbvia confusão de valores e de crenças, deveríamos perguntar: “que religião é essa, pregada tão agressivamente em nosso tempo? Essa ênfase nos valores cristãos por acaso significa que realmente queremos levar a sério a vida cristã e seguir sinceramente a liderança, o senhorio de Jesus Cristo? Ou essa ênfase é apenas um esforço para ocultar a profunda incerteza concernente a todos os valores morais que nos ameaça e apavora?

A fim de responder essas perguntas é necessário examinar a natureza da vida cristã. Que é esse cristianismo que é defendido em rede de televisão? Tem alguma relação com a fé histórica da Igreja e com o Testemunho da Bíblia? Qual é a resposta cristã ao problema dos critérios ou padrões morais? Sob quais aspectos a vida cristã difere da vida apregoada por aqueles que não creem em Jesus como o Salvador? Devemos ainda nos perguntar: “O que torna cristã uma vida”? Vida cristã é o mesmo que vida feliz, vida bem ajustada, vida normal? É cristianismo mesmo o que os “tele-evangelistas” apregoam como salvação?

Uma das mais antigas discussões entre filósofos, psicólogos e teólogos trata do problema da liberdade humana. É o ser humano livre para escolher a vida boa? É ele “senhor do seu destino e comandante da sua alma”? Ou foi ele moldado por forças além do seu controle para ser o que é? Quero fazer uma afirmação que pode soar paradoxal: “A liberdade do ser humano é sua servidão”. Ele pode ser livre para tomar muitas decisões importantes a respeito da sua vida. Pode opinar na escolha de seu trabalho, seu cônjuge, seus amigos ou do tipo da vida que deseja levar. Mas existe uma escolha que ele não pode fazer: não pode deixar de escolher. Não pode fugir da sua liberdade. Está fadado a ser livre. Quer goste, quer não, quer acredite, quer não, ele tem que viver tomando decisões constantes e inevitáveis.

Somos pessoas na corrente do tempo. A corrente permanece em movimento. Nada podemos fazer a respeito disso. Não podemos parar. Na verdade vivenciamos esse “tempo”, que medimos tão apuradamente em segundos, minutos, horas e dias, meses e anos, de uma maneira bem confortável. Todos sabem que o tempo é vivenciado como “relativo”, não como “absoluto”; cinco minutos que se passa na cadeira do dentista pode parecer ser mais longo do que uma hora que se passa entretido por uma boa conversa. Essa relatividade do tempo, da qual alguns aspectos podem até mesmo ser medidos, torna a nossa viagem na corrente do tempo ainda mais desconfortável. Entre outras coisas, a velocidade da corrente parece aumentar à medida que se envelhece. Quando éramos crianças, o natal nunca chegava, depois dos 30 os meses começam a voar!

Nessa circunstancia é necessário entender que a vida não apenas exige uma decisão; a vida é decisão. O próprio ato de permanecer vivo implica decisão diária, até mesmo suicidar-se exige decisão. O ser humano não pode evitar as decisões. Não pode escapar da sua liberdade.

Existe algo que possa nos guiar em nossas decisões que tomamos diariamente? Existe um critério ou padrão que possa nos orientar? Um padrão? Você pode apresentar as razões que faz com que você vá a um culto, ao invés de estar passeando na praia? Como foi que você chegou a essa decisão? Houve algum critério importante que você usou para se orientar? Igualmente quando você escolhe uma pessoa como amiga (ou amigo), ao invés de outra, sua decisão é guiada por algum critério de atratividade? Ao escolher um candidato a algum cargo eletivo, sua decisão se baseia em que? Quais os princípios que lhe orientam?

Uma ética essencialmente cristã só pode ser vivida a partir da experiência do “novo nascimento”. Assim, suas decisões são pautadas por princípios ensinados e vividos pelo próprio Cristo.


[1] Anotações a partir de: FORELL, George W. Ética da Decisão. 5.ed. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2001.
[2] WISE, Werner. Ética Fundamental: critérios para crer e agir. São bento do Sul, SC: Editora União Cristã, 2008. p, 23

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