Como definir ética? Ética é a ciência (estudo/ensino) que se
ocupa com a conduta do ser humano,
focando especialmente sua responsabilidade pela organização da vida na
sociedade (e perante Deus). Dr. Werner Wise, citando Rabusque, define ética
como: “ciência normativa do agir humano em vista do seu fim último”[2].
Mesmo que
pessoas tivessem que admitir que ocasionalmente deixavam de viver conforme os
critérios e padrões morais da sua sociedade, consideravam isso uma reflexão
sobre sua própria imperfeição, e não sobre a validade da lei moral. As pessoas,
tanto no passado quanto agora, negavam que fossem malfeitores, que tivessem
cometido crimes, mas nunca afirmaram que os culpados não deveriam ser punidos.
Foi deixado
por conta de nossa época negar a possibilidade de culpa. Não se está seguro de
existir algo como certo ou errado, bom ou mau. E essa completa incerteza acerca
dos valores morais está na raiz da terrível confusão de nossa época. Esse caos
ético é a razão última de todas as nossas divisões e conflitos. Devido a essa
nossa incerteza sobre critérios de certo ou errado, o mundo, que em alguns
sentidos está mais unido como nunca (especialmente na comunicação), ao mesmo
tempo está simultaneamente dividido como nunca antes esteve.
Se no
passado precisávamos percorrer grandes distancias para encontrar princípios
morais distintos dos nossos (sair da Europa e ir para a Ásia, Índia, China),
hoje basta atravessarmos o corredor de nosso prédio, ou a rua em que se mora
para encontrar pessoas vivendo em um mundo completamente diferente, no qual não
existe Deus nem lei divina (mesmo que tenha uma crença no sagrado, é uma crença
totalmente distinta do que sempre acreditamos e fomos ensinados), onde impera o
egoísmo, os instintos animais, a sobrevivência dos mais aptos. Muitas pessoas
hoje creem que “certo” é o que é útil para o seu grupo”. Existem tantos mundos
quantos grupos desses que acreditam serem sua própria lei.
A anarquia
dos valores dividiu este mundo, materialmente uno, num número sempre crescente
de mundos que absolutamente não se compreendem uns aos outros. Podemos usar a
mesma linguagem científica, depender economicamente uns dos outros e ter
condições de viajar rapidamente de um lugar para outro, porém vivemos cada vez
mais em mundos diferentes.
O mundo
contemporâneo não está dominado por nenhuma fé específica. O hinduísmo não
domina a Índia. Quando se conversa com o hindu moderno ele se mostra tão
secularizado quanto o norte americano de grande cidade. A estrutura de valores
cristãos também não está dominando os EUA e a Europa. Não existe uma fé
dominante e abrangente que daria sentido á vida de todos os seres humanos em
toda a parte.
Contudo,
falando em nosso contexto brasileiro, somos um país cristão em sua esmagadora
maioria. Além disso, evangélicos se multiplicam cada vez mais na sociedade,
mostrando que até 2035 metade da população brasileira se identificará como
evangélico. Mas, em vista da óbvia confusão de valores e de crenças, deveríamos
perguntar: “que religião é essa, pregada tão agressivamente em nosso tempo?
Essa ênfase nos valores cristãos por acaso significa que realmente queremos
levar a sério a vida cristã e seguir sinceramente a liderança, o senhorio de
Jesus Cristo? Ou essa ênfase é apenas um esforço para ocultar a profunda
incerteza concernente a todos os valores morais que nos ameaça e apavora?
A fim de
responder essas perguntas é necessário examinar a natureza da vida cristã. Que
é esse cristianismo que é defendido em rede de televisão? Tem alguma relação
com a fé histórica da Igreja e com o Testemunho da Bíblia? Qual é a resposta
cristã ao problema dos critérios ou padrões morais? Sob quais aspectos a vida
cristã difere da vida apregoada por aqueles que não creem em Jesus como o
Salvador? Devemos ainda nos perguntar: “O que torna cristã uma vida”? Vida
cristã é o mesmo que vida feliz, vida bem ajustada, vida normal? É cristianismo
mesmo o que os “tele-evangelistas” apregoam como salvação?
Uma das
mais antigas discussões entre filósofos, psicólogos e teólogos trata do
problema da liberdade humana. É o ser humano livre para escolher a vida boa? É
ele “senhor do seu destino e comandante da sua alma”? Ou foi ele moldado por
forças além do seu controle para ser o que é? Quero fazer uma afirmação que
pode soar paradoxal: “A liberdade do ser
humano é sua servidão”. Ele pode ser livre para tomar muitas decisões
importantes a respeito da sua vida. Pode opinar na escolha de seu trabalho, seu
cônjuge, seus amigos ou do tipo da vida que deseja levar. Mas existe uma
escolha que ele não pode fazer: não pode deixar de escolher. Não pode fugir da
sua liberdade. Está fadado a ser livre. Quer goste, quer não, quer acredite,
quer não, ele tem que viver tomando decisões constantes e inevitáveis.
Somos
pessoas na corrente do tempo. A corrente permanece em
movimento. Nada podemos fazer a respeito disso. Não podemos parar. Na verdade
vivenciamos esse “tempo”, que medimos tão apuradamente em segundos, minutos,
horas e dias, meses e anos, de uma maneira bem confortável. Todos sabem que o
tempo é vivenciado como “relativo”, não como “absoluto”; cinco minutos que se
passa na cadeira do dentista pode parecer ser mais longo do que uma hora que se
passa entretido por uma boa conversa. Essa relatividade do tempo, da qual
alguns aspectos podem até mesmo ser medidos, torna a nossa viagem na corrente
do tempo ainda mais desconfortável. Entre outras coisas, a velocidade da
corrente parece aumentar à medida que se envelhece. Quando éramos crianças, o
natal nunca chegava, depois dos 30 os meses começam a voar!
Nessa
circunstancia é necessário entender que a vida não apenas exige uma decisão; a
vida é decisão. O próprio ato de permanecer vivo implica decisão diária, até
mesmo suicidar-se exige decisão. O ser humano não pode evitar as decisões. Não
pode escapar da sua liberdade.
Existe algo
que possa nos guiar em nossas decisões que tomamos diariamente? Existe um
critério ou padrão que possa nos orientar? Um padrão? Você pode apresentar as
razões que faz com que você vá a um culto, ao invés de estar passeando na
praia? Como foi que você chegou a essa decisão? Houve algum critério importante
que você usou para se orientar? Igualmente quando você escolhe uma pessoa como
amiga (ou amigo), ao invés de outra, sua decisão é guiada por algum critério de
atratividade? Ao escolher um candidato a algum cargo eletivo, sua decisão se
baseia em que? Quais os princípios que lhe orientam?
Uma ética
essencialmente cristã só pode ser vivida a partir da experiência do “novo
nascimento”. Assim, suas decisões são pautadas por princípios ensinados e
vividos pelo próprio Cristo.
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