segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

EU FUI GOSPEL!




Ainda me lembro do final dos anos 80 e início dos anos 90. Não sei se todos na minha idade, pouco mais de 30 anos, tem a mesma impressão que tenho hoje. A ditadura estava acabando, logo, a minha geração não sabe o significado na prática de termos como “AI5”, “golpe de 64”, “exilados políticos”, etc. Para mim são apenas assuntos históricos. Obviamente relevantes para o país, mas eu não vivi isso.

Vi pela televisão a constituinte de 1988. Vi, também pela televisão os grande comícios para as “Diretas Já”. Vi o Tancredo sendo escolhido, mas o Sarnei sendo empossado. Vivi o frenesi com a eleição e depois derrubada do Collor. Lembro-me bem do ano de 94, ano do Penta Campeonato de Futebol que o Brasil conquistou nos EUA. Nessa época cursava o final do antigo segundo grau no Colégio Estadual Nazira Salomão. Um dia ia sair um ônibus de estudantes para a cidade do Rio de Janeiro para participarem de uma passeata dos “caras pintadas”. Um colega me chamou para ir. Eu perguntei: "Porque você vai"? Ele disse: "Pô! Vai ser muito manero! Vamos lá agitar! A galera toda vai." Resolvi não ir. Hoje penso que foi melhor. Sem querer defender o Collor, PC Farias e companhia, nos últimos meses surgiram escândalos e roubalheiras bem piores... A diferença é que os que estão no poder hoje, antes estavam incitando as massas nas ruas...

Pois é, como vivia em uma cidade do interior, às vezes algumas coisas da vida eram uma espécie de "eco" do que ocorria nas grandes capitais. No meio evangélico era da mesma forma. Era a época do “movimento gospel”.

Comecei a tocar bateria um pouco tarde na idade, tinha uns 12 anos. Na minha casa não tem nenhum músico. Com exceção da minha irmã e da minha mãe, todos somos desafinados. Mas eu queria tocar. Em parte devido a influência de um primo que tocava vários tipos de instrumentos musicais e ainda tocava em uma banda evangélica o "Nova Geração" (parece nome de banda de pagode, mas era uma banda que fazia um estilo pop-rock). Comecei a tocar na igreja. Eu era horrível! Ainda me lembro do meu Pastor parando os hinos no meio e mandando-me parar... que vergonha!

O tempo passou e eu melhorei. Nunca fui o melhor. Embora houvesse uma disputa silenciosa entre os bateristas evangélicos da cidade, eu não passava vergonha nos “shows”.

Fui um dos primeiros da minha cidade a assistir a grande seventos gospel. Fui várias vezes a São Paulo para assistir aos S.O.S da Vida promovidos pela Renascer (Pacaembu, ginásio da Portuguesa, Sambódromo) e também em cultos na Avenida Lins de Vasconcelos, tudo em São Paulo. No Rio também fui ao Maracanã e Apoteose. Vi o Bride, Petra, Guardian, White Cross, Michael W. Smith, entre outros.

Em Angra dos Reis fizemos vários shows na rua, em clubes, praças... Foi uma época bastante agitada... Agora, imagina, eu era membro da Assembléia de Deus e estava envolvido na maioria dos “shows evangélicos” da cidade. Abri até uma loja, a “Gospel Music”, que vendia Disco de Vinil e artigos de divulgação do movimento gospel. Imagina só! Era muita doideira... Uma vez um irmão entrou na loja e eu fui oferecer para ele um disco do Resgate com o título: “Vida, Jesus e Rock`N´Roll”. Ele clamou o sangue e foi embora!

Pois é, o tempo passou, e com ela a adolescência. Tive muitos problemas na minha adolescência, especialmente na parte final. Muitos deles porque eu queria me encontrar. No fundo de tudo o que eu fazia, o maior desejo era agradar a Deus. Embora tenha certeza que na maioria das vezes isso não aconteceu. Mas tentei. Eu admirava aqueles cantores de bandas... Ainda me lembro quando a minha banda abriu um show para o Brother Simion (vocalista do Katsbarnéa), ele era o ícone da época gospel. Ainda dormiu na sala da minha casa! Puxa! Para um garoto, isso foi uma onda e tanto!

Na época fomos mal compreendidos pelos pastores. Como meninos, só estávamos tentando louvar a Deus de uma forma que conhecíamos. Esse era o discurso: "Vamos levar Jesus aos lugares onde a linguagem tradicional da igreja não consegue chegar".

Haviam muitas pessoas sinceras, bem intencionadas, mas também haviam os exploradores. Logo estávamos servindo de palanque eleitoral, bucha de canhão. O ideal de levar Jesus foi sendo substituído pela fama, pela disputa, pela ganância. Os shows foram ficando cada vez mais shows. A diferença com o mundo foi diminuindo cada vez mais. Ingressos eram cobrados, cachês pagos (cada vez mais caros), exigências cada vez mais parecidas com artistas do mundo... Em pouco tempo as apresentações começaram a ser conjuntas, ou seja, bandas não evangélicas começaram a se apresentar com bandas evangélicas... A coisa foi se complicando cada vez mais...

O tempo passou, amadurecemos, casei, tornei-me pastor pela bondade de Deus. A bateria ficou para trás. Mas o ideal de querer servir a Deus em verdade e sinceridade, só fez aumentar. Hoje não sou mais gospel. Na verdade, nem gosto mais do termo. A leitura que faço do movimento é que ele se perdeu no caminho. Hoje quero apenas ser servo do Senhor.

O que escrevi é apenas uma história, ecos da minha lembrança, tudo ficou no passado, mas deixou lições muito importantes, como por exemplo: Não podemos criticar o que não conhecemos e nem julgar uma pessoa por uma única situação; não podemos perder o foco de ter Deus em primeiro lugar; sempre buscarmos a moderação. Além de ter a certeza que um dia, o adolescente vira homem (adulto). E a história segue o seu rumo.

8 comentários:

  1. A Paz do Senhor Jesus.
    como estão as coisas?
    Estimado Pr. Eduardo, estive participando no Forum de Missões em maceió (onde resido), e gostei muito.

    gostaria de adquirir mais informações sobre os projetos missonários.

    Com relação a um outro assunto, gostaria de sua opnião pois se trata de um video, mais especificamente de um Pr. chamado Paulo Roberto, que estava em um congresso missionário e começou a falar da CGADB, do Pr Ciro Sanches, e virou para vocês e disse que um ia cair de cama.
    por acaso o irmão sabe de alguma coisa sobre este cidadão?
    se a convenção vai tomar alguma providencia assim como fez com o Ouriel de Jesus?

    Deus te abençoe meu querido, fraternalmente em Cristo

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  2. Meu amado irmão, essa questão do Pr. Paulo Roberto é complicada... Se vc me perguntar se eu concordo com tudo o que ele diz e faz, eu lhe respondo que não. mas também não acho que o Pr. Ciro fez certo em detrata-lo... Contudo, essas decisões devem sair do pastor dele que é o Pr. Sebastião de Cuiabá, MT
    Grande abraço e sempre as ordens.
    Eduardo

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  3. Graça e Paz Irmão Eduardo.
    Esse seu texto é excelente.
    Temos que deixar de ser Gospel e nos tornar mais Jesus. Sempre questionei essa "agitação" provocada por bandas e superstars do mundo "evangélico". A coisa tá feia! As pessoas estão se esquecendo da simplicidade de Cristo.
    Deus o abençoe. Não pare de escrever.

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  4. Obrigado Carlos. Vamos em frente... A vida segue

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  5. Pz do Senhor querido,
    obrigado pela resposta, realmente são questões complicadas, confesso que fiquei um tanto estarrecido não tanto com o que ele falou, mas com os gritos de glória e aleluias, enfim, tem sido dias trabalhosos realmente.
    mas como estão os projetos missionários?
    e aquele projeto de adotar uma criança?
    um abraço Deus te abençoe em Cristo Jesus!!

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  6. CAro L.F Bruschi,
    Os projetos estão caminhando. Atualmente estamos envolvidos no desenvolvimento de nosso seminário teológico em Cochabamba. nosso objetivo é formar pastores andinos com sólidas bases bíblicas pentecostais. Estamos buscando parceiros na adoção desses alunos

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  7. A paz do Senhor!meu Pastor e Professor Eduardo, lendo o seu artigo, relembrei essa época,poderia dizer que ficou massa!mas vamos dizer que ficou uma benção!!! Isso faz do crescimento espiritual de todo evangélico,amadurecimento é uma coisa que precisa de tempo,por isso nem sempre acertamos, graças a Deus,o Senhor é paciente e espera esse nosso amadurecimento.

    Deus continnue te abençoando e renovando as tuas forças.

    José Adalberto
    (seu aluno do curso de teologia)

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  8. A paciência de Deus sempre nos surpreende... ele é longanimo. Que seria de nós se não fosse assim...

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