Pensando de forma simplista sobre algumas situações atuais em relação a
fé dá para começar a ficar preocupado. Por exemplo, quando um Padre se torna
símbolo sexual, realizando shows, usando calças de couro, faz musculação, camisas
apertadas e as mulheres gritam: “gostosão”!
Quando alguns Pastores mais parecem empresários bem sucedidos que
administram as igrejas aplicando princípios do “mercado” oferecendo um produto
a ser consumido pelas massas. Onde missas católicas são em ritmos de aeróbicas,
cultos evangélicos são feitos para entreter os frequentadores e o local arquitetonicamente
projetado para a satisfação pessoal e mensagens milimetricamente preparadas
para massagear o ego, mas não acusar o pecado, com certeza temos um grande
problema.
Não sou necessariamente contra a
realização de shows. Mas eles devem ser colocados no seu devido lugar, serem entendidos
como isso: apenas como um show, um entretenimento que necessariamente não é
errado ou pecaminoso. Mas o fato é que não questionam nada, nem promovem
nenhuma mudança real na igreja, por isso não devem ser confundidos com o que,
historicamente chamamos de culto de adoração a Deus que produz quebrantamento,
arrependimento. Onde a santidade de Deus é contrastada com a nossa
pecaminosidade. Pois em meio a tudo isso o evangelho e a evangelização são
outra coisa. Porém, parece que já não é mais prioridade. A prioridade é a
renovação do sentimento religioso, a redescoberta do prestígio sobrenatural do
líder e do prestígio social da igreja, como já foi defendido por um famoso
teólogo de nosso tempo.
Em muitos aspectos o evangelho
entra em conflito, ou até mesmo em contradição com essa realidade que, para
muitos, vai se tornando natural. Muitas das lideranças cristãs, no afã de verem
as massas lhes seguindo acabam por adaptar a mensagem às demandas desse
“mercado religioso”, com isso anunciam o que as pessoas querem ouvir. Nesse
caso ocorre uma subordinação da Missão da Igreja à demanda dos consumidores
religiosos.
O problema é que esse modelo se esgota com o tempo. Ao
tratar os membros como sócios, ou clientes, logo eles exigirão direitos de
consumidores, consumidores religiosos. Levando, por parte dos líderes a um
ciclo permanente de inovações, assim como o mercado da tecnologia, onde um celular
envelhece em seis meses. Hinos que duram um verão, pregadores que duram uma
temporada, verdadeiras estrelas cadentes. Esse sistema gera pessoas que vão à
busca das “promoções do mercado religioso” migrando sempre que surge uma “boa
promoção”. Pastores que caem nessa armadilha, dificilmente serão lembrados pela
próxima geração. Isto é, caso venha a existir uma outra geração para os que
seguiram esse caminho de subordinação da Missão da Igreja ao markenting de mercado.
Essa subordinação pode ser
entendida como a vitória da lógica do marketing sobre a lógica religiosa ou profética.
Na lógica do markenting empresa (ou igreja) procura, em
primeiro lugar saber quais são os desejos dos consumidores e a partir disso
elabora os seus produtos (bens físicos, simbólicos ou discursos), para atender
esses desejos. Enquanto que na lógica profética procura-se conhecer primeiro a
vontade de Deus, ou a verdade a ser alcançada através de uma iluminação e
depois se anuncia essa verdade mesmo que ela entre em conflito como desejo da
maioria da população. Os profetas sempre denunciam o que há de errado na
sociedade, nas instituições religiosas e na vida das pessoas e anunciam a
esperança de um novo porvir, de uma alternativa possível. Talvez por isso, que,
via de regra, os profetas aos olhos humanos “sempre se deram mal”. Elias foi
ameaçado de morte, assim como Eliseu, Jeremias foi preso, Daniel traído... a
lista seria longa se fossemos tratar de todos, inclusive os discípulos que
sofreram martírio, os cristãos primitivos da igreja, etc.
Encerro parafraseando Eugene Peterson:
Aplauso estatístico não tem nada a ver com fidelidade. Uma imagem pública
brilhante não tem nada a ver com obediência. A Palavra Bíblica “obedecer é
melhor do que sacrificar” (1Sm 15.22) é uma proclamação magnífica e clara do
tema que mais tarde é retomado e muito bem pregado por Isaías (1.11-15), Amós
(5.21-27) e Oséias (6.6). Deus continua a separar os que manipulam a comunidade
da fé para servir a si mesmos do que sevem ao Senhor da Igreja.