sábado, 12 de maio de 2012

Religião e Mercado



Pensando de forma simplista sobre algumas situações atuais em relação a fé dá para começar a ficar preocupado. Por exemplo, quando um Padre se torna símbolo sexual, realizando shows, usando calças de couro, faz musculação, camisas apertadas e as mulheres gritam: “gostosão”!  Quando alguns Pastores mais parecem empresários bem sucedidos que administram as igrejas aplicando princípios do “mercado” oferecendo um produto a ser consumido pelas massas. Onde missas católicas são em ritmos de aeróbicas, cultos evangélicos são feitos para entreter os frequentadores e o local arquitetonicamente projetado para a satisfação pessoal e mensagens milimetricamente preparadas para massagear o ego, mas não acusar o pecado, com certeza temos um grande problema.
Não sou necessariamente contra a realização de shows. Mas eles devem ser colocados no seu devido lugar, serem entendidos como isso: apenas como um show, um entretenimento que necessariamente não é errado ou pecaminoso. Mas o fato é que não questionam nada, nem promovem nenhuma mudança real na igreja, por isso não devem ser confundidos com o que, historicamente chamamos de culto de adoração a Deus que produz quebrantamento, arrependimento. Onde a santidade de Deus é contrastada com a nossa pecaminosidade. Pois em meio a tudo isso o evangelho e a evangelização são outra coisa. Porém, parece que já não é mais prioridade. A prioridade é a renovação do sentimento religioso, a redescoberta do prestígio sobrenatural do líder e do prestígio social da igreja, como já foi defendido por um famoso teólogo de nosso tempo.

Em muitos aspectos o evangelho entra em conflito, ou até mesmo em contradição com essa realidade que, para muitos, vai se tornando natural. Muitas das lideranças cristãs, no afã de verem as massas lhes seguindo acabam por adaptar a mensagem às demandas desse “mercado religioso”, com isso anunciam o que as pessoas querem ouvir. Nesse caso ocorre uma subordinação da Missão da Igreja à demanda dos consumidores religiosos.

O problema é que esse modelo se esgota com o tempo. Ao tratar os membros como sócios, ou clientes, logo eles exigirão direitos de consumidores, consumidores religiosos. Levando, por parte dos líderes a um ciclo permanente de inovações, assim como o mercado da tecnologia, onde um celular envelhece em seis meses. Hinos que duram um verão, pregadores que duram uma temporada, verdadeiras estrelas cadentes. Esse sistema gera pessoas que vão à busca das “promoções do mercado religioso” migrando sempre que surge uma “boa promoção”. Pastores que caem nessa armadilha, dificilmente serão lembrados pela próxima geração. Isto é, caso venha a existir uma outra geração para os que seguiram esse caminho de subordinação da Missão da Igreja ao markenting de mercado.
Essa subordinação pode ser entendida como a vitória da lógica do marketing sobre a lógica religiosa ou profética. Na lógica do markenting empresa (ou igreja) procura, em primeiro lugar saber quais são os desejos dos consumidores e a partir disso elabora os seus produtos (bens físicos, simbólicos ou discursos), para atender esses desejos. Enquanto que na lógica profética procura-se conhecer primeiro a vontade de Deus, ou a verdade a ser alcançada através de uma iluminação e depois se anuncia essa verdade mesmo que ela entre em conflito como desejo da maioria da população. Os profetas sempre denunciam o que há de errado na sociedade, nas instituições religiosas e na vida das pessoas e anunciam a esperança de um novo porvir, de uma alternativa possível. Talvez por isso, que, via de regra, os profetas aos olhos humanos “sempre se deram mal”. Elias foi ameaçado de morte, assim como Eliseu, Jeremias foi preso, Daniel traído... a lista seria longa se fossemos tratar de todos, inclusive os discípulos que sofreram martírio, os cristãos primitivos da igreja, etc.

Encerro parafraseando Eugene Peterson: Aplauso estatístico não tem nada a ver com fidelidade. Uma imagem pública brilhante não tem nada a ver com obediência. A Palavra Bíblica “obedecer é melhor do que sacrificar” (1Sm 15.22) é uma proclamação magnífica e clara do tema que mais tarde é retomado e muito bem pregado por Isaías (1.11-15), Amós (5.21-27) e Oséias (6.6). Deus continua a separar os que manipulam a comunidade da fé para servir a si mesmos do que sevem ao Senhor da Igreja.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Não Será Assim Entre Vós






 E aproximaram-se dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo: Mestre, queremos que nos faças o que te pedirmos.E ele lhes disse: Que quereis que vos faça?E eles lhe disseram: Concede-nos que na tua glória nos assentemos, um à tua direita, e outro à tua esquerda.Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas;Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal;E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mc 10.35-37,42-45).

            Sempre que estou em um velório, ou fazendo a cerimônia fúnebre, nunca sei muito bem o que dizer, muitos pensamentos me veem à mente. Um deles é que todos nós somos finitos. Diante da morte percebemos a nossa pequenez, lembramos que somos pó e para o pó voltaremos. Toda e qualquer presunção de força ou superioridade se perde diante da morte.
            Salomão, o sábio, disse que preferia estar em uma casa onde há luto do que em uma casa onde há festa. A festa nos faz ter uma falsa ideia de normalidade, as festas por vitórias que alcançamos, pode nos fazer ter a ideia de sermos super-homens. Porém, onde há luto, nos faz refletir, pensar na vida.
            O texto de Marcos 10.35-37,42-45, nos mostra dois seguidores de Jesus pedindo uma posição de destaque ao lado dEle. O que eles queriam era ter proeminência sobre os demais discípulos. Eles queriam posição, status. Jesus responde a eles dizendo que no Reino de Deus a coisa funciona diferente. Jesus quer mostrar-lhes que no Reino não há lugar para prepotência, orgulho ou soberba. Ou seja, o Reino de Deus não é como o reino do mundo.
            Na edição do dia 23 de junho de 2007 a revista Veja fez uma reportagem sobre as intrigas que há entre alguns ministros do governo Lula. Como a própria reportagem conclui, são intrigas com o único objetivo de obter mais poder. É uma leitura dos bastidores do poder na República do Brasil. É assim no reino dos homens. Mas não deve ser assim entre os súditos do Reino de Deus.
Com lágrimas nos olhos constato que, em muitos meios eclesiásticos, são essas atitudes que estamos vendo. Conchavos políticos para conseguir cargos na administração, mentiras, invejas, influência do poder econômico de alguns para se sobrepor, busca do poder pelo poder. Talvez, hoje, mas do que nunca, vale a pena lembrar-se das palavras de Jesus; “NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VÓS”.
No Reino de Jesus, só há lugar para quem tem sentimento de servo. O que Ele quer de nós é que tenhamos o mesmo sentimento que Ele teve (Fl 2.5-8), o sentimento de servo. Para os que entram na corrida por posição e triunfo, não há vencedores, é uma corrida perversa que no fim esmagará a nossa alma. Há uma citação do livro “Sete Hábitos das Pessoas Muito Eficazes”, escrito por Stephen R. Covey, que nos traz ensinamentos brilhantes:
            “Quando olho para as tumbas dos grandes homens, qualquer resquício de sentimento de inveja morre dentro de mim; quando leio os epitáfios dos magníficos, todos os desejos desordenados desaparecem; quando me deparo com o sofrimento dos pais em um túmulo, meu coração se desmancha de compaixão; quando vejo a tumba dos próprios pais, lembro-me de como é vão chorarmos por aqueles que logo seguiremos; quando vejo reis colocados ao lado daqueles que os depuseram, quando medito sobre os espíritos antagônicos enterrados lado a lado, ou os homens sagrados que dividiram o mundo com suas discussões e contendas, medito cheio de dor e surpresa, sobre a pequenez das disputas, facções e debates da humanidade. Quando leio as variadas datas dos túmulos, algumas recentes, outras de seiscentos anos atrás, penso no grande Dia, no qual seremos todos contemporâneos, e faremos nossa aparição conjunta”.
            A sedução do aplauso é vã. As disputas e invejas nos igualam aos homens maus. O Reino de Deus é diferente, o maior é o menor; a matemática de Deus é diferente, Ele deixa noventa e nove ovelhas para buscar uma; revira toda uma casa arrumada para encontrar uma simples drácma perdida. Os valores do Reino são superiores, não podemos trocá-los pela moda do dia.
            Houve um homem na história, filho de um bom pai, educado nos princípios religiosos que seus pais haviam recebido de Deus, mas que não conseguiu compreender os princípios o Reino de Deus. A história não o perdoou. Esse homem é Esaú. A história acusa Esaú de trocar a benção futura por um prazer imediato (Hb 12.16), dando a ele um adjetivo: profano.
            Não quero ser lembrado como profano e inescrupuloso. Daqui a muitos anos escreverão a nossa história e a pergunta é: Como seremos lembrados? O meu desejo é que, quando falarem da nossa geração, possam falar de pessoas que viviam sob as leis do Reino; pessoas que entenderam a orientação de Cristo: “NÃO SERÁ ASSIM ENTRE VÓS”.