domingo, 23 de dezembro de 2007

E o Verbo se Fez Carne Num Estábulo em Belém



Talvez o momento da data na qual comemora-se o o Natal já tenha passado, assim como também o período festivo de fim de ano. Mesmo assim, seja em qual época do ano você estiver lendo este texto, penso que é um momento oportuno. Além do mais, nosso “natal” é diário. Nossa vida é contar a história do Deus que se fez homem para nos salvar. Quero escrever, em rápidas palavras sobre a visão de dois autores: Lucas e Mateus. Eles nos apresentam o nascimento de Jesus de duas perspectivas diferentes. Cada uma põe à prova o nosso entendimento de um aspecto central da nossa fé. Em Lucas, é a natureza do senhorio de Cristo. Em Mateus, é o que significa seguir esse Senhor.

Percebo na história de Lucas elementos bastante calorosos e cheos de alegria: " Ora, havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens! " (Lucas 2.8-14).

A narração de Lucas nos faz lembrar de vários cânticos festivos. Anjos que cantam, pastores em paz nos campos... Tudo dará certo. Nasceu o Rei. É o que nos diz Lucas.

Mateus, entretanto, nos mostra outra visão. Olhe bem e perceberá que nem tudo está bem. A criança não está no estábulo, mas na casa (Mt 2.9-11). Saem as mulheres; entram os homens. Em lugar dos pastores, há magos. No lugar de anjos que cantam, Herodes e seus soldados estão arrombando portas em busca de meninos que tiverem menos de dois anos de idade. Em lugar de paz, há perturbação (Mt 9.16-18).

"Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, [choro] e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem" (Mateus 2.18).
Herodes ouve aquelas canções felizes sobre o nascimento do Rei e mata todos os meninos de Belém. Soldados furiosos, cumprindo a ordem do rei, saem com suas espadas brilhantes prontas a assassinar. As mães choram sobre túmulos pequenos e rasos, isso é o relato de Mateus.

Interessante é que tanto Lucas quanto Mateus nos desafiam. Lucas desafia e demonstra o nosso conceito do senhorio de Cristo. Ele nos diz que chegou o Salvador, Cristo, o Senhor. Ao lermos, perguntamos: "Onde?". E, em vez de nos remeter a um rei no trono ou a um guerreiro montado, Lucas nos mostra um recém-nascido numa manjedoura. "E isto vos servirá de sinal", afirma Lucas. "Este é o seu Deus, este bebê." Interessante, Cristo, o Senhor, era igualmente indefeso. O amor pela humanidade o deixou vulnerável.

Contudo, Mateus não nos permitirá ser ingênuos quanto a seguir esse Senhor. Seguimos um recém-nascido que possui inimigos ferozes que matarão inocentes para chegar até ele. Só de ouvirem falar deste bebê, o ódio do rei Herodes e de seus soldados, lhes incita ao ódio.

Assim, entendemos que viver o estilo de vida do Deus que se fez homem, paz e boa vontade para com os outros, fará todas as tropas do inferno saírem para deter-nos. Somos chamados para sermos discípulos em um mundo em que o bem se paga com o mal e onde os justos sofrem pelo bem que fazem.

Faço a pergunta: você está realmente pronto para cantar "Noite feliz"? Você entende o que acontecerá quando contar a história da mãe virgem e de seu bebê? Será a melhor história que o mundo já ouviu. Alguns cantarão. Alguns matarão. Mas nós, devemos contá-la todos os dias. Jesus nasceu.

Ev. Eduardo Leandro Alves

Sec. Exec. de Missões – SEMAD-PB

sábado, 24 de novembro de 2007

EU TENHO UM SONHO...


Eu Tenho um Sonho


Essa frase foi titulo de uma famosa mensagem do Pr. Martim Luther King (defensor dos direitos dos negros americanos). Assim como essa famosa mensagem ele fez outra: “Eu vejo a terra prometida”. Ao final desta mensagem, quando saiu da igreja, Luther foi assassinado por alguém que discordava das suas idéias. Naquela noite ele viu a terra prometida.

Fico pensando que já nos cansamos de sonhar. O ex-presidente FHC declarou a um jornal do Piaui que “o Brasil é isso mesmo que está aí”. Parece que se cansou. O Brasil que está aí nas páginas dos jornais é o do mensalão, dos sangue-sugas da saúde, dos corruptos e corruptores. Pelo menos é esse Brasil que se escancara a nossa frente todas as vezes que lemos os jornais e revistas.

Certa vez o profeta Habacuque perguntou a Deus, ou melhor, questionou a Deus, “Até quando clamarei violência e não responderás...”
Ultimamente tenho feito esta pergunta, até quando...

Até quando...

Suportaremos políticos que tratam como pessoal a coisa pública. Empresários corruptos que corrompem pessoas simples, e os que não se deixam corromper acabam destruídos pelo poder do seu dinheiro.
Lembra-se do caseiro Francenildo? Teve a coragem de confirmar as maracutaias feitas na casa em que trabalhava, e até pouco tempo atrás estava desempregado. O denunciado, como se sabe, possui “imunidade parlamentar” e ganha em torno de R$ 100.000,00 (com os auxílios que a câmara lhe oferece)

Até quando....

Teremos que suportar o homem mal prevalecer, assassinar, roubar, destruir famílias, viverem nababescamente à custa das desgraças alheias, mandar e desmandar e nada lhe acontecer? Quero esclarecer que creio na intervenção divina, mas pergunto aos homens investidos de autoridade.

Até quando....

Teremos que suportar pastores indignos de comunicar a fé subindo nos púlpitos e ludibriando as pessoas de boa fé?
Se pararmos para pensar na vida, talvez fiquemos entre o questionamento do profeta Habacuque e a dúvida do salmista Asafe no salmo 73. Em relação a vida do ímpio, ele diz

Os maus não sofrem; eles são fortes e cheios de saúde. Eles não sofrem como os outros sofrem, nem têm as aflições que os outros têm. Por isso, usam o orgulho como se fosse um colar e a violência, como uma capa. O coração deles está cheio de maldade, e a mente deles só vive fazendo planos perversos. Eles gostam de caçoar e só falam de coisas más. São orgulhosos e fazem planos para explorar os outros. Falam mal de Deus, que está no céu, e com orgulho dão ordens às pessoas aqui na terra. Assim o povo de Deus vai atrás deles e crê no que eles dizem. Eles afirmam: “Deus não vai saber disso; o Altíssimo não descobrirá nada!” Os maus são assim: eles têm muito e ficam cada vez mais ricos. Parece que não adiantou nada eu me conservar puro e ter as mãos limpas de pecado. Pois tu, ó Deus, me tens feito sofrer o dia inteiro, e todas as manhãs me castigas. (BNLH)

Até quando... Essa era a angústia de Asafe. Esta é a minha angústia.

Até quando...

Participarei de uma Igreja (veja bem, o I é maiúsculo, ou seja, não é em relação a igreja local, mas ao sistema) que sede a tentação do poder, que prefere não se envolver para não ser perseguida? Uma Igreja que a cada dia vai se alienando e com isso perdendo a sua vocação profética de denunciar os abusos e injustiças que são cometidos a nossa volta?

Até quando terei que suportar uma igreja que aplaude os poderosos e negligencia o fraco. Ou seja, uma igreja que nega o evangelho de Jesus, que veio para os doentes, fracos, oprimidos e sobrecarregados.

Até quando...

Terei que agüentar uma justiça que prioriza os poderosos em detrimento dos mais fracos. Diz-se que a justiça é cega, mas os “bons advogados” têm mais possibilidades de encontrar as brechas na lei, que na maioria das vezes sempre prioriza os fortes.

Lendo o Salmo 73 inteiro, talvez tenha encontrado a resposta:
Se eu tivesse falado como os maus, teria traído o teu povo. Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil demais para mim. Porém, quando fui ao teu Templo, entendi o que acontecerá no fim com os maus. Tu os pões em lugares onde eles escorregam e fazes com que caiam mortos. Eles são destruídos num momento e têm um fim horrível. Quando te levantas, Senhor, tu não lembras dos maus, pois eles são como um sonho que a gente esquece quando acorda de manhã. O meu coração estava cheio de amargura, e eu fiquei revoltado. Eu não podia compreender, ó Deus; era como um animal, sem entendimento. No entanto, estou sempre contigo, e tu me seguras pela mão. Tu me guias com os teus conselhos e no fim me receberás com honras. No céu, eu só tenho a ti. E, se tenho a ti, que mais poderia querer na terra? Ainda que a minha mente e o meu corpo enfraqueçam, Deus é a minha força, ele é tudo o que sempre preciso. Os que se afastam de ti certamente morrerão, e tu destruirás os que são infiéis a ti. Mas, quanto a mim, como é bom estar perto de Deus! Faço do Senhor Deus o meu refúgio e anuncio tudo o que ele tem feito. (BNLH)

Mesmo assim, eu tenho um sonho...

Um sonho que um dia a segunda parte deste Salmo se torne realidade. Onde os insolentes, os malvados, os que zombam de Deus serão esquecidos. Desaparecerão assim como a neblina desaparece pela manhã, como um sonho ruim que esquecemos...
Tenho um sonho de não perguntar mais até quando, mas de poder dizer como o profeta Habacuque em seu livro no capítulo 3.17-19, após ter ouvido de Deus as resposta de seus questionamentos:
Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não dêem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Senhor e louvarei a Deus, o meu Salvador. O Senhor Deus é a minha força. Ele torna o meu andar firme como o de uma corça e me leva para as montanhas, onde estarei seguro. (BNLH)

Até quando Senhor............

Pr. Eduardo Leandro Alves, um irmão com saudades.
In memorian de Joaquim Leandro Alves Neto