Bem-aventurados os
mansos, porque eles herdarão a terra (Mt 5.5)
É sabido que o mundo, enquanto
sistema, rejeita os valores do Reino de Deus. O sistema pensa em termos de
força, de poderio militar, bélico, econômico e político. Quanto mais agressivo,
mais forte. Jesus, porém, disse que não são os fortes e os arrogantes que são
felizes; nem são eles que vão herdar a terra, mas os mansos. Neste caso, ser
cristão é ser totalmente diferente, pois somos uma nova criatura, possuímos um
novo nome, uma nova mente, nascemos de novo, somos de outro Reino.
A verdade é que Jesus frustrou
muitos de seus contemporâneos. Os judeus, subjulgados pelos romanos desde o ano
63 a.C, aguardavam um Messias político, guerreiro, que implantasse Seu Reino pela
força. Haviam vários grupos em Israel, os 4 mais importantes eram: os fariseus,
que como religiosos conservadores, esperavam um Messias milagroso; os saduceus,
que eram os liberais, queriam um Messias materialista; os essênios, eram
místicos que viviam nas cavernas próximas ao Mar morto, eles queriam um Messias
monástico; e os zelotes, eram ativistas militares que se insurgiam contra Roma,
queriam um Jesus militar. Os próprios apóstolos queriam uma restauração
política (At 1.6). Jesus, porém veio com outras propostas e o povo disse: Não
queremos esse Messias. Fora com ele! Crucifica-o!!
Agora, manso neste contexto das bem-aventuranças não pode ser confundido
com uma atribuição natural, como uma boa índole, uma pessoa educada
socialmente, pois não é algo externo, mas uma obra da graça no coração. Ser
manso não é virtude, é graça! Ser manso não é ser mole, ou ficar impassível
diante dos problemas. Não é ser tímido ou covarde, medroso, ou indolente. As
pessoas mansas na Bíblia foram profundamente vigorosas e enérgicas. Tiveram
coragem de se posicionar contra o erro. Enfrentaram acoites, prisões e a
própria morte devido aos seus posicionamentos. Basta somente olharmos para
Moisés, Paulo, Jeremias, o próprio Cristo. Jesus era manso e humilde de
coração, mas expulsou do Templo vendilhões, teve coragem de morrer na Cruz e de
acusar o pecado. Mansidão não significa impotência, mas domínio próprio. “Quem
não tem domínio próprio é como uma cidade derribada (Pv 25.28). Ser manso não é
ser conivente e com isso manter a paz a qualquer preço, ficando em cima do muro
e agradar a gregos e troianos. Ser manso não é ser neutro, ou viver sem cor ou
sem sal, sem opinião própria.
O QUE SIGNIFICA SER MANSO
É ser submisso a vontade de Deus.
Uma pessoa mansa não se rebela contra a vontade de Deus e não vive uma vida de
murmuração. Uma pessoa mansa é como Paulo, sabe viver em qualquer situação (Fp
4.11). Está sempre dando graças a Deus, sabendo que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus.
É estar debaixo do controle de
Deus. O manso é aquele que literalmente “foi domesticado”. A palavra grega para
manso, praus, significa meigo,
trata-se da atitude humilde e mansa que se expressa na submissão às ofensas,
livre de malícia e de desejo de vingança. Significa um dos termos mais elevados
no vocabulário ético dos gregos antigos; a virtude como equilíbrio entre dois
extremos alcançada por quem é manso.
Nas palavras do Pr. Hernandes
Dias Lopes, o manso é aquele que tem força, mas a força está sob controle. A
Bíblia fala que é mais forte aquele que domina o seu espírito do que aquele que
domina uma cidade.
Dr. Lloyde-Jones diz que manso é
aquele não reivindica os seus próprios direitos. O manso não exige coisa alguma
para si. Não considera todos os seus legítimos direitos como algo a ser
exigido. Não faz exigências quanto a sua posição, aos seus privilégios, às suas
possessões e à sua situação na vida. Jesus, sendo Deus não teve como usurpação
o ser igual a Deus (Fp 2.5,6). O manso é aquele que está disposto a sofrer o
dano. Como Paulo escreveu aos Coríntios, em uma demanda entre irmãos, ele está
pronto a sofrer o dano em vez de buscar levar vantagem (1Co 6.7).
O indivíduo que é manso admira-se
de Deus e dos homens pensarem tão bem dele quanto realmente pensam. Além disso,
uma pessoa mansa não se inflama facilmente (Sl 38.12,13).
Com esses conceitos em mente, entendemos que Jesus promete uma recompensa aos mansos:
Uma profunda e gloriosa
felicidade. Macarios, uma palavra
usada pelos gregos para falar da felicidade dos deuses. Uma felicidade plena
que não depende das circunstancias.
A herança da terra no tempo. Mesmo
sendo forasteiros na terra (Hb 11.37), os mansos são aqueles que herdam a
terra. Eles comem o melhor dessa terra. O ímpio pode ter a posse temporal da
terra, mas o manso usufrui as benesses dessa terra.
Nesse sentido os mansos já são
herdeiros da terra, na vida presente. Pois o manso é uma pessoa satisfeita.
Sente-se contente. Ele nada tem, mas tudo possui. Paulo diz: “entristecidos,
mas sempre alegres, pobres, mas enriquecendo a muitos, nada tendo, mas
possuindo tudo” (2Co 6.10). O manso é cidadão do céu. O manso é filho de Deus,
o manso é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. Do Senhor é a terra a sua
plenitude. Ou seja, tudo o que pertence ao Senhor, pertence ao manso.
Nesse caso, conquistarão a terra
não pelas armas, não pela força, mas por herança. O manso herda as bênçãos da terra. O manso desfrutará também a terra
restaurada, redimida do seu cativeiro. Ele habitará no seu novo céu e na nova
terra. O manso não apenas herda a terra, mas também o céu.