Sobre meios e fins…
A relação entre fins (o lugar para onde estamos nos dirigindo) e meios (como chegamos lá) deve ser observada. A idéia de Maquiavel, onde os fins justificam os meios não serve para a Igreja de Jesus. Encaixar os meios corretos aos fins esperados é fundamental na nossa caminhada. Pois os meios não podem apenas serem satisfatórios, mas também corretos com os fins. Os meios devem se encaixar com os fins, caso contrário, todo o processo se desmoronará.
Na vida é muito mais fácil determinar os fins, os alvos que queremos, do que os caminhos que nos levarão até ele. Estabelecer a meta exige pouco esforço, nenhum comprometimento e nenhuma habilidade. Contudo, encontrar os meios satisfatórios para viver para a glória de Deus e de forma condizente com a nossa identidade de filhos de Deus e membros da igreja, ou seja, chegar aos alvos pré-determinados é uma questão de concentração diligente, de perseverança responsável e discernimento aguçado.
Na tentação narrada nos Evangelhos, o diabo desafia a Jesus a cumprir a sua missão de forma a não ter que sofrer as conseqüências da vida natural. Mudar os meios para alcançar os fins.
Cada uma das tentações está relacionada com a maneira pela qual Jesus adotará para realizar a Sua obra. Será que Ele tornará a salvação impessoalizada impondo a Sua vontade às pedras, às pessoas? Será que Ele montará um espetáculo mostrando a providencia miraculosa de Deus sempre que Ele quiser? O que quer que signifique o Caminho de Jesus, a força intimidadora não faz parte dele. O Caminho de Jesus é sempre exercitado de maneiras pessoais, criando, salvando e abençoando as pessoas.
Nas três grandes recusas Jesus está declinando de fazer coisas boas da maneira errada. Cada tentação vinha embrulhada com algo bom. O diabo tem grandes ideias, ele é um visionário! Mas ele é incapaz de se encarnar como fez o Filho de Deus, o Verbo encarnado. O Mal usa as pessoas para corporificar seus projetos em relacionamentos funcionais e não pessoais. Como diz Eugene Peterson: “Todas as vezes que abraçamos caminhos que não são os de Jesus, tentando manipular as pessoas ou os acontecimentos de maneiras que impedem o progresso dos relacionamentos e das intimidades, estamos fazendo a obra do diabo”.
Na caminhada cristã, a mensagem do evangelho, o caminho de Jesus, não é apenas uma estrada para se chegar ao topo. Para muitos, seguir a Jesus é ser livre do inferno, é ser próspero, ter fama, tornar-se líder... Porém, é muito mais que isso. O caminho que nos leva ao céu, a presença de Deus é talhado de relacionamentos, aprendizado, é uma experiência para se viver em comunidade, para se viver como Igreja do Senhor.
A Fé
A história de Abraão é fantástica. Uma de suas fases que me impressiona foi quando Deus pediu a ele o seu filho em sacrifício. Hoje sabemos que Deus estava provando Abraão, provando a sua fé. Sabemos, por meio das Escrituras que Deus não aceita sacrifícios de seres humanos. Mas Abraão não tinha esse pré-conhecimento que nós possuímos após ler a sua história. Ele estava, ainda, escrevendo essa história.
Um ato de fé. A fé nos faz confiar de forma obediente no que não podemos controlar; viver um relacionamento obediente com Aquele que não podemos ver; nos lançarmos em uma terra sobre a qual nada sabemos. Isso se relaciona à fusão do invisível com o visível. Quando se entrega em ato de fé, abre-se mão de exercer o controle, abandona-se a confirmação dos sentidos (visão, audição, tato, olfato) da realidade a volta. Neste momento deixamos de confirmar e insistir nos processos oriundos do conhecimento intelectual como nosso meio principal de orientação da vida cotidiana. Quando damos o passo de fé, escolhemos lidar com um Deus vivo em que confiamos e sabemos que Ele sabe o que faz. Abraão era assim.
Penso em Abraão saindo e caminhando ao lado do jovem, sem saber efetivamente o que aconteceria. Estava disposto a executar o pedido do seu Deus, mas acreditava que Deus para si prepararia o cordeiro.
O caminho de Abraão continua da mesma forma. Em alguma altura do caminho de nossa vida percebemos que não estamos no controle da situação. “A vida de fé não consiste em impor nossa vontade (ou a vontade de Deus!), quer sobre as pessoas, quer sobre o mundo material ao nosso redor. Em vez de formarmos o mundo ao redor, ou as pessoas ao redor, ou nós próprios à imagem do que pensamos ser bom, entramos no processo que dura toda uma vida de não mais organizar o mundo e as pessoas como queremos”.
Fé é uma vida de obediência e confiança em quem nos chamou. Fé é um deliberado “sim” às promessas e às ordens do Deus vivo, o Deus do presente. A fé também é um firme “não” a um ídolo sujeito a manipulação e ao controle, um deus que podemos ver, tocar, testar e dar ordens.
Abraão não se tornou um exemplo de fé porque alguém o explicou sobre a fé, mas por uma longa jornada na vida. Pois, a fé não se aprende por meio de cópias, ou por imitação, ou por dominar algumas técnicas de fé. Todos somos originais quando vivemos pela fé. A fé genuína em Deus nos levará a escolher os meios certos para alcançarmos o fim desejável.