quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A FELICIDADE DOS MANSOS



Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra (Mt 5.5)

É sabido que o mundo, enquanto sistema, rejeita os valores do Reino de Deus. O sistema pensa em termos de força, de poderio militar, bélico, econômico e político. Quanto mais agressivo, mais forte. Jesus, porém, disse que não são os fortes e os arrogantes que são felizes; nem são eles que vão herdar a terra, mas os mansos. Neste caso, ser cristão é ser totalmente diferente, pois somos uma nova criatura, possuímos um novo nome, uma nova mente, nascemos de novo, somos de outro Reino.

A verdade é que Jesus frustrou muitos de seus contemporâneos. Os judeus, subjulgados pelos romanos desde o ano 63 a.C, aguardavam um Messias político, guerreiro, que implantasse Seu Reino pela força. Haviam vários grupos em Israel, os 4 mais importantes eram: os fariseus, que como religiosos conservadores, esperavam um Messias milagroso; os saduceus, que eram os liberais, queriam um Messias materialista; os essênios, eram místicos que viviam nas cavernas próximas ao Mar morto, eles queriam um Messias monástico; e os zelotes, eram ativistas militares que se insurgiam contra Roma, queriam um Jesus militar. Os próprios apóstolos queriam uma restauração política (At 1.6). Jesus, porém veio com outras propostas e o povo disse: Não queremos esse Messias. Fora com ele! Crucifica-o!!

Agora, manso neste contexto das bem-aventuranças não pode ser confundido com uma atribuição natural, como uma boa índole, uma pessoa educada socialmente, pois não é algo externo, mas uma obra da graça no coração. Ser manso não é virtude, é graça! Ser manso não é ser mole, ou ficar impassível diante dos problemas. Não é ser tímido ou covarde, medroso, ou indolente. As pessoas mansas na Bíblia foram profundamente vigorosas e enérgicas. Tiveram coragem de se posicionar contra o erro. Enfrentaram acoites, prisões e a própria morte devido aos seus posicionamentos. Basta somente olharmos para Moisés, Paulo, Jeremias, o próprio Cristo. Jesus era manso e humilde de coração, mas expulsou do Templo vendilhões, teve coragem de morrer na Cruz e de acusar o pecado. Mansidão não significa impotência, mas domínio próprio. “Quem não tem domínio próprio é como uma cidade derribada (Pv 25.28). Ser manso não é ser conivente e com isso manter a paz a qualquer preço, ficando em cima do muro e agradar a gregos e troianos. Ser manso não é ser neutro, ou viver sem cor ou sem sal, sem opinião própria.

O QUE SIGNIFICA SER MANSO

É ser submisso a vontade de Deus. Uma pessoa mansa não se rebela contra a vontade de Deus e não vive uma vida de murmuração. Uma pessoa mansa é como Paulo, sabe viver em qualquer situação (Fp 4.11). Está sempre dando graças a Deus, sabendo que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

É estar debaixo do controle de Deus. O manso é aquele que literalmente “foi domesticado”. A palavra grega para manso, praus, significa meigo, trata-se da atitude humilde e mansa que se expressa na submissão às ofensas, livre de malícia e de desejo de vingança. Significa um dos termos mais elevados no vocabulário ético dos gregos antigos; a virtude como equilíbrio entre dois extremos alcançada por quem é manso.

Nas palavras do Pr. Hernandes Dias Lopes, o manso é aquele que tem força, mas a força está sob controle. A Bíblia fala que é mais forte aquele que domina o seu espírito do que aquele que domina uma cidade.

Dr. Lloyde-Jones diz que manso é aquele não reivindica os seus próprios direitos. O manso não exige coisa alguma para si. Não considera todos os seus legítimos direitos como algo a ser exigido. Não faz exigências quanto a sua posição, aos seus privilégios, às suas possessões e à sua situação na vida. Jesus, sendo Deus não teve como usurpação o ser igual a Deus (Fp 2.5,6). O manso é aquele que está disposto a sofrer o dano. Como Paulo escreveu aos Coríntios, em uma demanda entre irmãos, ele está pronto a sofrer o dano em vez de buscar levar vantagem (1Co 6.7).

O indivíduo que é manso admira-se de Deus e dos homens pensarem tão bem dele quanto realmente pensam. Além disso, uma pessoa mansa não se inflama facilmente (Sl 38.12,13).

Com esses conceitos em mente, entendemos que Jesus promete uma recompensa aos mansos:

Uma profunda e gloriosa felicidade. Macarios, uma palavra usada pelos gregos para falar da felicidade dos deuses. Uma felicidade plena que não depende das circunstancias.

A herança da terra no tempo. Mesmo sendo forasteiros na terra (Hb 11.37), os mansos são aqueles que herdam a terra. Eles comem o melhor dessa terra. O ímpio pode ter a posse temporal da terra, mas o manso usufrui as benesses dessa terra.

Nesse sentido os mansos já são herdeiros da terra, na vida presente. Pois o manso é uma pessoa satisfeita. Sente-se contente. Ele nada tem, mas tudo possui. Paulo diz: “entristecidos, mas sempre alegres, pobres, mas enriquecendo a muitos, nada tendo, mas possuindo tudo” (2Co 6.10). O manso é cidadão do céu. O manso é filho de Deus, o manso é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo. Do Senhor é a terra a sua plenitude. Ou seja, tudo o que pertence ao Senhor, pertence ao manso.

Nesse caso, conquistarão a terra não pelas armas, não pela força, mas por herança. O manso herda as bênçãos da terra. O manso desfrutará também a terra restaurada, redimida do seu cativeiro. Ele habitará no seu novo céu e na nova terra. O manso não apenas herda a terra, mas também o céu.