sexta-feira, 23 de novembro de 2012

SOBRE AUTENTICIDADE




Penso que não foi fácil a decisão de Davi de recusar a armadura de Saul, justamente no dia em que ia lutar contra Golias. Deve-se entender que nesse momento ainda não havia a disputa e inveja que posteriormente corroeria Saul e o levaria a uma corrida doentia de “caça” a Davi. Davi, ao que tudo indica, amava e servia o Rei. O Rei Saul era esplêndido e poderoso, e, também ao que parece, admirava e amava a Davi e estava fazendo tudo o que podia para auxilia-lo, inclusive emprestando a própria armadura. No entanto, apesar de tudo isso, Davi retirou o capacete, dispensou a armadura e despiu-se dela. Essa não deve ter sido uma decisão fácil. Se livrar de todos aqueles recursos oferecidos.

Acontece que ter ido encontrar Golias vestindo a armadura de Saul teria sido um desastre. E é aqui que se encontra uma lição do Pr. Eugene Peterson: “Sempre acaba em desastre quando se abre mão da autenticidade. Davi necessitava do que era autentico para ele”.

Fico impressionado ao imaginar essa cena com o fato que Davi foi ousado o bastante para rejeitar a sugestão de fazer a sua obra sem autenticidade (ao não querer usar a armadura de Saul); e foi modesto e ousado o suficiente para usar somente o que adquirira habilidade para usar nesses anos como pastor de ovelhas (sua funda e algumas pedras). E ele matou o gigante.

Isso é um problema. Isso é um dilema. Há pessoas que não conseguem ter autenticidade. Usam uma voz que não é sua. Ao orar, imitam outros; ao pregar imitam outros; repetem frases de efeito e vivem de “chavões”. Não possuem padrões éticos fortes o suficiente para tomar decisões, com isso seus comportamentos são dúbios, ou como popularmente se diz: “dançam conforme a música”. Pode dar certo por um tempo, mas isso não é suficiente para derrotar Golias.

O outro lado dessa questão está no fato de a nossa volta estarmos cercados de pessoas que se importam conosco. De repente estão ali ajudando, reunindo um exército que nos auxiliará, vestindo-nos com excelentes equipamentos de guerra que nos qualificará para a tarefa. Pessoas que verdadeiramente estão preocupadas conosco e nós nos sentimos tocados por suas preocupações, impressionados por suas experiências, dons e talentos. Surge então o discernimento para saber o que é autêntico, quem sou eu. Qual a minha vocação? Qual é a minha armadura? Isso se chama equilíbrio, discernimento. Com todo esse equipamento, às vezes oferecido, percebe que mal consegue se mover. A autenticidade, e o equilíbrio às vezes nos fará dizer:  "muito obrigado, vou ficar com a minha funda e as minhas pedrinhas".

Para terminar: tornem-se cada vez mais fortes, vivendo unidos com o Senhor e recebendo a força do seu grande poder. Vistam-se com toda a armadura que Deus dá a vocês, para ficarem firmes contra as armadilhas do Diabo. Pois nós não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal que vivem nas alturas, isto é, os governos, as autoridades e os poderes que dominam completamente este mundo de escuridão. Por isso peguem agora a armadura que Deus lhes dá. Assim, quando chegar o dia de enfrentarem as forças do mal, vocês poderão resistir aos ataques do inimigo e, depois de lutarem até o fim, vocês continuarão firmes, sem recuar. (Ef 6.10-13)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A Mensagem Cristã: Jesus Cristo o Salvador



Viver a Missão, pregá-la com amor, com paixão é exercer o real evangelho de Cristo neste mundo, praticar o exemplo que encontramos em sua Palavra. Não se trata de tarefa fácil, mas é o grande desafio da Igreja Cristã contemporânea, pois em muitos casos a mensagem cristã é identificada (sobretudo em países orientais) com o colonialismo, por isso, nesse caso, deve-se romper com os laços do passado, onde a “fé” e a “missão” serviram de instrumento de subordinação e exploração. Viver a “Missio Dei” (missão de Deus) é viver/praticar a compaixão de Deus em meio ao mundo corrompido, explorado e enganado por suas “próprias paixões”. Durante muito tempo os colonizadores realizaram a expansão ultramarina sob a cruz de Cristo, onde a espada e a fé se fundiram.

Contudo, quando se olha com atenção para a história, e para as palavras de Jesus registradas por Mateus (28. 19-20) surge diante da Igreja um grande desafio: O de ir, de ensinar, esclarecer, para que ocorra a transformação em meio ao povo, gerar discípulos.

É preciso libertar o povo de uma religiosidade e espiritualidade profundamente sincrética, de uma fé que vê Jesus somente como um político que está preocupado com o social, assistencialista, assim como de uma fé intolerante e fanática, que escraviza milhares de pessoas. A Missão também possui o desafio de emancipar pessoas de uma fé que não é experimentada como desafio, que não opera transformação nos corações e mentes, produzindo esperança e regozijo; libertar o povo de uma espécie de repetição mística de tristeza, conformismo, e oferecer-lhes o Cristo Filho de Deus, diferente do então conhecido, um Jesus que transforma vidas, liberta da escravidão do pecado, e garante vida eterna. Pregar um Cristo diferente do que popularmente se difundiu em muitas mentes religiosas, que anunciou o Reino a todos, mas que, insiste na conversão pessoal, na transformação e salvação do indivíduo e de sua realidade.

Precisamos resgatar a teologia da graça da Reforma protestante, a qual aponta para os dilemas teológicos do pensamento a respeito dos méritos. Quando Lutero olhou para o texto de Romanos 3.21-31, assim como toda a carta aos Romanos, fez uma grande descoberta, percebeu que realmente não há nada de bom nele. Nem mesmo os seus esforços, por mais sinceros que sejam, poderiam mudar o seu estado de perdição. Ele depende única e exclusivamente da obra de Cristo na Cruz, que é completa.

A “loucura da Cruz” muitas vezes, é perdida de vista ou mascarada, inventa-se então um evangelho que é maleável, esquecemos da “loucura, do escândalo da Cruz”. E pregamos um Cristo adaptável aos nossos anseios e costumes. Redescobrir Jesus, crucificado e ressurreto se faz necessário para uma prática missionária relevante. Precisamos resgatar o sentido de “ser igreja” de Jesus neste mundo de contradições e ambiguidades no qual vivemos. Somente assim poderemos ter certeza de que estamos contribuindo de maneira real e eficaz para o crescimento do Reino de Deus neste mundo.

Enfim, testemunhar, ensinar, esclarecer é a missão nossa, missionários, pastores teólogos, de todos os conhecedores da Palavra e da história, pessoas que fazem parte da Igreja de Jesus Cristo, seus discípulos. Não existe fé cristã se não existir algo de que é preciso dar testemunho público e incondicional.
“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” At 1.8
Ângela Reiner Alves – professora de Grego e Hebraico e Coordenadora Pedagógica do CETAD-PB